terça-feira, 26 de março de 2024

 




MPS faz filiações em massa no DF visando 2026

e milhares de outras no país para eleições este ano.

Por Khatarina Garcia

 

            Agência Mídia Sem Fronteiras – 26.03.24 – KG: Com o objetivo de fortalecer o PSB em todo o país, considerando que em alguns estados o Partido Socialista Brasileiro pode até não apresentar candidaturas a vereador ou a prefeito, o Movimento Popular Socialista, principal setorial de massa, ideológico e de esquerda do PSB, sob coordenação nacional do advogado e ex-guerrilheiro Acilino Ribeiro organizou uma campanha de filiação de líderes populares, dirigentes de movimentos sociais e quadro políticos dentre professores, jornalistas e líderes religiosos.

            A campanha começou ainda em janeiro deste ano nos vários estados e no DF se iniciou em outubro passado quando da instalação da Tenda Cultural instalada na Feira da Ponta Norte, em todo o Brasil já foram filiados para mais de duzentas lideranças espalhadas em mais de quinze estados e no DF, porem em Brasília não haverá eleições este ano mas as filiações visam construir uma nominada para 2026 dado a saída de muitos filiados do partidos desde as eleições de 2022, principalmente dirigentes históricos como a professora Yara Gouveia e o professor Adriano Sandri, críticos ferrenhos da atual direção do PSB no DF e que foram para o PSOL no Distrito Federal.

             A direção nacional do MPS orientou aos estados que filiassem o maior número de lideranças populares e dirigentes de movimentos sociais com inserção na sociedade civil e se disponham a se candidatar para ajudar ao partido, mas em alguns estados existe uma certa rejeição dado a maneira com que o PSB vem sendo conduzido e o que se viu nos últimos dias foi a saída de algumas lideranças em alguns estados, principalmente mulheres.

             No Distrito Federal as filiações tinham sido marcadas para serem entregues dia 08 de março, mas para não bater com as comemorações do Dia Internacional da Mulher foram adiadas para o dia 29 deste, porem coincidiu com a sexta feira sante e agora foi adiado para o dia 09 de abril, com a presença do Secretário Nacional do MPS Acilino Ribeiro e diversos outros membros da Executiva Nacional do Movimento. Agência Mídia Sem Fronteiras – 26.03.24 – KG:

 

        

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Evento no FSM no Nepal elege os 100 melhores educadores populares do mundo e 10 são brasileiros.

 


Evento no FSM no Nepal elege os 100 melhores educadores populares do mundo e 10 são brasileiros.

 

Por HÉLIDA KRIGGER, de Katmandu / Nepal.

 


Ativistas brasileiros estão entre os melhores do mundo na área de educação popular e formação política. Todos professores militantes das igrejas, PT, PSOL e PSB.

 Agência  Mídia Sem Fronteiras / 19.02.23 – HK: Reunidos em Katmandu, capital do Nepal entre os dias 15 e 19 de fevereiro para debater vários assuntos ligados á geopolítica mundial com uma grande diversidade de temas, onde predominou assembleias sobre clima e meio ambiente, violência policial e direitos humanos, educação popular e formação política e feminismo e feminicidio, mais de mil e duzentas organizações populares e movimentos sociais de aproximadamente cem (100) países realizaram um dos mais empolgante Fórum Social Mundial já realizado após alguns anos de estagnação do mesmo.

          Diversas oficinas temáticas aconteceram com a participação de centenas de militantes sociais, educadores populares e ativistas pelos direitos humanos, o meio ambiente, a paz mundial, contra a intolerância religiosa e a violência policial no mundo. A questão climática e o meio ambiente predominaram durante todo o Fórum, mas dois outros temas se destacaram pelo grande número de oficinas e a oportunidade de se realizarem assembleias e encontro entre militantes sociais de todos os países presentes. Foi o caso dos direitos humanos e da educação popular.

           Mais de cem organizações entre escolas de formação política e educadores populares, fundações culturais e partidárias, agências de financiamentos e ONGs de mais de noventa países aproveitaram a oportunidade e promoveram um Encontro Internacional de Escolas de Formação, Universidades Populares e Educadores Sociais por uma Cultura de Paz, articulado por dezenas de entidades latino americanas e africanas presentes ao evento. Foi um evento auto-gestionário com ampla participação popular e de especialistas.

           

Detentoras de mais de quase bilhão de dólares em recursos assistenciais e educacionais, culturais e científicos, estas fundações e agências fizeram uma avaliação do que tem sido até hoje os encaminhamentos como formas de financiamento e o desenvolvimento dos trabalhos sociais e de assistência, culturais e educacionais na África, Ásia e América Latina principalmente, regiões onde se desenvolvem os respectivos projetos por elas financiadas. Debateram por outro lado novas formas de financiamento e propuseram a mudança de regras para alocação de recursos nestes países considerados ainda do terceiro mundo. Após suas oficinas promoveram o Encontro que reuniu mais de duzentos representantes, dirigentes e militantes dessas organizações, principalmente escolas de formação ligadas ao projeto das universidades populares.

          O Encontro Internacional de Escolas de Formação, Universidades Populares e Educadores Sociais por uma Cultura da Paz reuniu um grande número d especialistas da área, com militantes de todos os continentes e foi deliberado  pelo fortalecimento da política de educação popular na América Latina e na África e ao final foram escolhidos os cem (100) melhores educadores populares do mundo, como uma forma de incentivar a educação popular e a formação política como também o reconhecimento do trabalho de política de base e formação cidadã nestes países. Outro aspecto desse encontro foi o incentivo ao projeto de organizaçãode universidades populares pelo mundo, especialmente na América Latina e África onde serãoaumentados os investimen

   Dentre os cem (100) melhores educadores sociais e populares do mundo estão trinta e seis (36) latino americanos, quatorze (14) europeus, vinte e um (21) africanos, quatro (04) árabes-palestinos, vinte e cinco (25) asiáticos. Dentre os latino americanos estão dez (10) brasileiros que se destacaram nos últimos dez anos na área de formação política e defesa de teses na área de Educação Popular, segundo informaram alguns dos organizadores do evento, dentre estes, Carlos Delgado, Diretor da Escola Internacional de Formação Política, com sede em SP capital, outra em no México, e uma em Luanda, Angola, pertencentes a uma rede de universidades populares, e Javier Galhardo, do Centro Latino Americano de Educação Popular, com sede em Lima no Peru. Outro representante brasileiro no encontro foi Altamiro Afonso Lima, da Rede Afro-brasileira de Educação Popular - e a argentina Lorena Sanches Caballero, do Centro Pedagógico Universidade Popular da Argentina.

          Segundo Miro Luís de Carvalho, Diretor de Formação do Justiça Sem Fronteiras, com sede no RJ, Brasil, também em Caracas, Venezuela e em Johanesburgo, África do Sul os dez (10) brasileiros escolhidos no respectiva econtro e considerados dentre os cem melhores do mundo e, portanto, os melhores do Brasil são respectivamente: Ademar Bogo, filosofo e doutor em educação, professor universitário na Bahia, com vários livros publicados sobre o tema educação popular e conferencista dos mais solicitados no Brasil; Adelar Pizetta, pedagogo com doutorado em Educação Popular e professor universitário no Espirito Santo, também com vários livros publicados e diversas conferencias realizadas; Ranulfo Peloso, teólogo e filosofo, educador popular e sindicalista brasileiro; os três militantes de base e professores da Escola Nacional Florestan Fernandes do MST e simpatizantes do PT; o quarto nome é do economista, historiador e educador popular Acilino Ribeiro, advogado de movimentos sociais e professor universitário, pós graduado em História Política; Geopolítica e Relações Internacionais; Teologia Política e História das Religiões, Inteligência Estratégica e Segurança Cidadã, em Economia Política Internacional é também dirigente nacional do PSB e tem diversas obras publicadas sobre educação popular e formação política.

            Os outros brasileiros homenageados no respectivo evento realizado durante o FSM por seus trabalhos na área de educação popular e formação política são: Frei Beto e Leonardo Boff, sacerdotes, teólogos e históricos ativistas pelos direitos humanos, pregadores da Teologia da Libertação e foram considerados referencias mundiais por proposta dos ativistas presentes como EDUCADORES DO MUNDO. Gilberto Carvalho e Pedro Pontual, também considerados referencias na área receberam a mesma honraria de Frei Beto e Leonardo Boff, como referencias internacionais na área de educação popular e formação política da sociedade. Gilberto Carvalho é ex-ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, ex-diretor de formação política do PT e atualmente Secretário Nacional de Economia Solidária do Governo Lula. Pedro Pontual considerado um dos maiores especialistas em educação no mundo, é Doutor em Psicologia e Educação pela PUC-SP, com especialização em processo educativo ligado a organizações sociais e orçamento participativo. Atualmente é Diretor de Educação Popular da Secretaria Geral da Presidência da República. E fechando a lista dos dez melhores do Brasil os participantes do FSM presentes no Encontro Auto-gestionário por uma Educação Política e Popular foram os pastores Ariovaldo Ramos, é teólogo, pastor, professor e coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. Estudioso de Filosofia desenvolve amplo programa de formação de lideranças.  Henrique Vieira. É pastor, com formação em Teologia, historiador, sociólogo, e tem uma larga tradição de luta como educador popular e na área de organização social. Atualmente é deputado federal pelo PSOL do RJ. 

          Segundo Altamiro Afonso Lima, os organizadores do evento entrarão em contato com os dez escolhidos para informa-los do agraciamento e homenageá-los pela escolha, que mesmo considerado uma homenagem simbólica através de um ato auto organizativo dentro do FSM  é de alta relevância pela contribuição histórica deles para com a humanidade na área de formação política, educação popular e organização de base. Informou ainda que os critérios para a escolha de nomes para estar entre os melhores do mundo são muito rígidos e abrange desde uma consulta a atuação ética e moral dos selecionados em suas atividades até a publicação de livros e textos, realização de palestras, debates e conferencias pelo mundo que influenciem as massas como formadores de opinião, ativismo político, social e partidário e pesquisas em redes sociais mostrando o trabalho realizado pelos mesmo em todo o mundo.

         Durante os quatro dias do FSM, os participantes debateram além da questão da Educação, Cultura, Desigualdade Econômica, Discriminação das Minorias, Uso da Terra, Soberania Alimentar, Saúde, Habitação, Paz, Conflito, Guerra, Ocupações, Deslocamentos e Segurança, Movimentos Sociais, Espaço Cívico e o Futuro do Fórum Social Mundial; dentre outros temas.  Os primeiros três dias foram focados no compartilhamento de informações, intercomunicação e construção de alianças, por meio dos painéis temáticos, fóruns, assembleias e atividades auto organizadas.

          Ao termino do Encontro dos educadores populares foi criado por sugestão de organizações africanas e latino-americanas o Fórum Internacional de Escolas de Formação Política e Educação Popular para atuar de forma permanente e como facilitador e de integração e articulação destas.

          O último dia, hoje, 19 de fevereiro, está sendo formulado um documento sistematizado que reúne o consenso dos participantes e suas sugestões.               

        Agência  Mídia Sem Fronteiras / 19.02.23 – HK:

  


 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

CAMILO TORRES - O Padre Guerrilheiro

Camilo Torres - O Padre guerrilheiro

"Onde caiu Camilo nasceu uma cruz,
porém não de madeira, e sim de luz".
(Victor Jará)

"Não deporei as armas enquanto o poder
não estiver totalmente nas mãos do povo".
(Camilo Torres)



Jorge Camilo Torres Restrepo nasceu em Bogotá, Colômbia, em 03 de fevereiro de 1929. Sua família pertencia à alta burguesia liberal da Colômbia. Seu pai, Calixto Torres Umaña era um prestigioso professor de medicina na Universidade Nacional da Colômbia, e de 1931 a 1934 representou seu país como Cônsul, em Berlim. Com a separação dos pais, em 1937, Camilo foi morar com sua mãe, Isabel Restrepo Gaviria Torres, e com seu irmão Fernando, em Bogotá. Depois do curso secundário, freqüentou, em 1947, durante um semestre, o Curso de Direito na Universidade Nacional da Colômbia. Em inícios de 1948 resolve entrar no Seminário Conciliar de Bogotá e preparar-se para o sacerdócio. Ali permaneceu durante sete anos, sendo ordenado padre em 1954. Logo em seguida é enviado à Bélgica para estudar sociologia na Universidade Católica de Lovaina. Em 1958 se graduou como sociólogo, apresentando um trabalho que analisava a proletarização de Bogotá.

Voltando a Bogotá em 1959, foi nomeado capelão da Universidade Nacional. Ali, juntamente com outros participantes, fundou a Faculdade de Sociologia, onde, durante algum tempo foi professor. Em 1961, Camilo Torres começou a ter problemas com o Cardeal Luís Concha Córdoba, que não via com bons olhos os seus trabalhos. Foi, então destituído do cargo de capelão, das atividades acadêmicas e das funções administrativas na Universidade Nacional.

Na tentativa de afastá-lo do mundo acadêmico, o cardeal o nomeou administrador paroquial de uma paróquia na periferia de Bogotá. Mas, Camilo não renunciou ao seu engajamento social. Em 1965 foi pressionado, pelo alto clero, a renunciar ao ministério sacerdotal. E em 27 de julho de 1965 celebra a sua última missa. Em sua "Mensagem aos cristãos", pouco tempo depois, já integrado no ELN, declara: "Deixei os privilégios e deveres do clero, porém não deixei de ser sacerdote. Creio que me entreguei à revolução por amor ao próximo. Deixei de rezar missa para realizar este amor ao próximo, no terreno temporal, econômico e social. Quando meu próximo não tiver mais nada contra mim, quando tenha realizado a revolução, voltarei a oferecer missa, se Deus me permitir. Creio que assim sigo o mandamento de Cristo: ‘quando levares tua oferenda ao altar, e ali te lembrares que teu irmão tem algo contra ti, deixa a tua oferenda sobre o altar, e vai reconciliar-te com teu irmão, e então volte e apresente tua oferenda’(Mt 5, 23-24). Depois da revolução, os cristãos teremos a consciência de que estabelecemos um sistema que estará orientado para o amor ao próximo".

Livre das imposições canônicas, Camilo intensificou a sua participação política, criando a "Frente Unida do Povo", como contraponto ao duvidoso "Pacto Nacional", celebrado entre liberais e conservadores. Já em 1964, quando o Governo bombardeou a região de Tolima com napalm, Camilo havia tentado um contato com o grupo de guerrilheiros, que dariam origem, em 1966, às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, (as FARC). Mas o diálogo com este grupo revolucionário comunista não progrediu. Menos complicado foi o contato com o ELN (Exército de Libertação Nacional, criado em 1964). Entretanto, Camilo fortalece a "Frente Unida do Povo" e cria o jornal semanário da "Frente Unida"; convoca o povo para as praças públicas, e prega a abstenção nas próximas eleições, como posicionamento revolucionário.

O sucesso político de Camilo cresce vertiginosamente, e as pressões governamentais aumentam. Acusam-no de subversivo. Assim pressionado, resolve colocar-se a serviço dos comandantes do Exército de Libertação Nacional.



Nos últimos meses de 1965, o padre guerrilheiro Camilo Torres envia mensagens aos cristãos, aos militares, aos camponeses e à Frente Unida do Povo. E em 15 de fevereiro de 1966 Camilo Torres morre em combate. Era a primeira ação guerrilheira armada de que participava. Até hoje não se sabe onde o exército colombiano enterrou seu corpo.

Os ideais de Camilo Torres

Camilo Torres considerava que quem definia o caráter pacífico ou violento da sociedade não era a classe popular, mas, sim, a classe dos governantes. Assim, propôs um "projeto de libertação" no qual podiam participar todos os homens e mulheres da Colômbia, guiados por uma opção chamada, por Torres, de "o amor eficaz para todos". Sua ação e pensamento se converteram num convite permanente para a luta, para que "a próxima geração não fosse mais de escravos, mas de homens livres".

Como Camilo Torres chegou a estas suas conclusões?

Desde cedo, Torres manifestava sua compaixão para com os oprimidos. Ainda criança, e vivendo com seu pai médico, distribuía as amostras grátis dos remédios que o pai recebia entre os trabalhadores de uma cerâmica, não muito distante de sua casa. O dinheiro que recebia para ir ao cinema o dava a crianças pobres das favelas. Quando abandona o curso de Direito, para entrar no seminário, declara que havia compreendido que "a vida, assim como a vivia e entendia, não tinha sentido". Por isto desejava ser padre para se tornar um "servo da humanidade", pois descobrira que "o cristianismo era um caminho totalmente concentrado no amor ao próximo".

Mais tarde, quando lhe perguntaram por que deixara o ministério sacerdotal, respondeu: "Abandonei o ministério sacerdotal (não o sacerdócio, pois este é eterno!) pelas mesmas razões pelas quais me comprometi com ele. Descobri o cristianismo como uma vida centrada totalmente no amor ao próximo; dei-me conta de que valia a pena comprometer-me com este amor nesta vida. Escolhi o sacerdócio para converter-me em um servidor da humanidade. Foi depois disto que compreendi que, na Colômbia, não se pode realizar este amor simplesmente por beneficência, mas que era urgente uma mudança de estruturas políticas, econômicas e sociais, que exigiam uma revolução, à qual este amor estava intimamente ligado. Mas, desgraçadamente, enquanto minha ação revolucionária encontrava uma resposta bastante ampla no povo, a hierarquia eclesiástica, em um determinado momento, tentou calar-me, contra a minha consciência que, por amor à humanidade, me levava a defender tal revolução. Então, para evitar qualquer conflito com a disciplina eclesiástica, solicitei a dispensa da minha sujeição a estas leis. Não obstante, me considero sacerdote até a eternidade, e entendo que meu sacerdócio e seu exercício se cumprem na realização da revolução colombiana, no amor ao próximo e na luta pelo bem-estar das maiorias". Para ele, a pura beneficência, a caridade, as esmolas nada mais são do que "a bebida que se dá ao tuberculoso para que pare de tossir".



Naturalmente, com este apelo revolucionário, surge a pergunta: o que Camilo Torres entende por revolução?

Em diversos momentos ele se explica, e diz: "(Entendo por revolução) uma mudança fundamental (e rápida) das estruturas econômicas, sociais e políticas. Considero essencial a tomada do poder pela classe popular, pois a partir dela surgem as realizações revolucionárias, que devem priorizar a propriedade da terra, a reforma urbana, a planificação integral da economia, o estabelecimento de relações internacionais com todos os países do mundo, a nacionalização de todas as fontes de produção, dos bancos, dos transportes, dos hospitais, dos serviços de saúde, assim como outras reformas que sejam indicadas pela técnica, para favorecer as maiorias, e não as minorias, como acontece hoje em dia".

Camilo Torres considera que, nesta revolução, o fundamental a se conquistar é a mudança da estrutura de poder, retirando o poder das mãos da oligarquia e colocando-o nas mãos do povo. E quem dirá se esta tomada de poder será pacífica ou violenta são as oligarquias. Se as oligarquias quiserem entregar o poder pacificamente, o povo o tomará pacificamente; mas, se apelarem para a violência, terão violência. Mas, antes de apelar para a violência, diz Camilo, devem se esgotar todos os caminhos pacíficos. No entanto, ele não confia muito em que as oligarquias entreguem o poder sem luta. Contudo previne que, antes de se apelar para ações revolucionárias violentas, a doutrina social da Igreja ensina que é necessário verificar quais as conseqüências de tais ações. Evidentemente, os resultados não poderão piorar a situação que se pretende corrigir. Para ele, a mudança das estruturas de poder na Colômbia devem mudar de qualquer forma, pois o perigo de piorar é muito pequeno, observando-se o número de crianças que morrem de fome, as meninas menores na prostituição, os constantes massacres, a violência e a miséria generalizadas em todo país, ao lado de minorias opressoras, coniventes com o imperialismo americano e sempre mais ricas.

Frente aos jornalistas, Camilo Torres, muitas vezes, teve que justificar sua atitude revolucionária, já que era cristão e padre. Dando suas explicações, ele diz: "Sou revolucionário como colombiano, como sociólogo, como cristão e como padre. Como colombiano, porque não quero ficar distante da luta de meu povo. Como sociólogo, porque minhas intuições científicas, em relação à realidade, me convenceram que é impossível chegar a soluções efetivas e adequadas sem uma revolução. Como cristão, porque o amor ao próximo é a essência do ser-cristão, e o bem-estar da maioria não se consegue sem a revolução. Como sacerdote, porque a entrega ao próximo, que exige a revolução, é um requisito da caridade fraterna, indispensável para celebrar a missa, que não é uma oferenda individual, mas de todo o povo de Deus por intermédio de Cristo"

O amor que Camilo pregava devia ser um amor eficaz, pois "a fé sem obras é morta" (Tg 2,17).

O texto que ele, muitas vezes, citava era o do Evangelho segundo Mateus 25,31-46, onde Cristo coloca os critérios de julgamento no juízo final: "Tive fome e me destes de comer...". Para Camilo, este texto somente cria valor se nos perguntarmos, nas circunstâncias concretas de nossa realidade, de que maneira somos capazes de dar de comer à maioria dos famintos, vestir a maioria dos desnudos, a abrigar a maioria dos sem-teto. E isto, segundo sua convicção, na Colômbia não se conseguiria sem reformas estruturais profundas em favor das maiorias. E se a revolução for necessária para realizar o amor ao próximo, o cristão deve ser um revolucionário.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Entrevista com ACILINO RIBEIRO - A Nova Esquerda e o os Revolucionários Cristãos




 
 
 
O que representa para o senhor esse I Encontro Governo de Brasília Movimentos Sociais, e como o senhor avalia os resultados. Atingiu a expectativa?  Em primeiro lugar foi um sucesso total. Ultrapassou as expectativas.  A participação de 712 entidades, das 1000 que consideramos representativa no DF, das mais variadas matizes políticas e representação social, gênero e reivindicações mostra o respeito que o governo Rollemberg tem pelos movimentos sociais como a reciprocidade por parte dos movimentos. Esse foi um trabalho de equipe da Secretaria de Relações Institucionais e Sociais do GDF, iniciada pelo então Secretário Marcos Dantas, que nos deu total apoio, continuado pelo Secretário Chefe da Casa Civil e Relações Institucionais Sergio Sampaio e o apoio de nosso Secretário Adjunto Igor Tokarski, com a completa anuência e incentivo do governador Rodrigo Rollemberg. Era uma ideia nossa fazer isso desde o começo do governo, mas ao conversar em certa ocasião com dona Marcia Rollemberg e com o próprio governador posteriormente e ao ver que essa ideia se coadunava com o pensamento de ambos levamos a ideia a frente e aí estar o resultado. O maior projeto de Participação Popular da história política do DF, que fará de Brasília a capital do diálogo e da participação. E pelo caráter humanista e formação democrática do governador Rodrigo Rollemberg será referência nacional no tema.

A imprensa elogiou a iniciativa e os movimentos aplaudiram muito o governador quando ele chegou no evento. Isso significa uma lua de mel com o governo? E o senhor se considera vitorioso e recompensado por ter contribuído para isso? Eu diria que isso é um reconhecimento do trabalho do governador e de sua equipe, ao mesmo tempo uma avaliação positiva do esforço que ele está fazendo para tirar Brasília da UTI e do caos administrativo e financeiro que herdou, e ao mesmo tempo para democratizar as decisões que nunca tiveram nos governos passados. Eu sou apenas uma peça de uma engrenagem maior. Não me considero importante por isso e nem quero ser. Por isso não. O papel do militante e ou do servidor público não é ser importante, é ser útil. E também leal ao meu partido, o PSB, que tem um projeto democrático e participativo para Brasília, leal ao meu governador e principalmente fiel aos meus princípios que norteiam minhas ações.

O senhor é apenas um Subsecretário de Estado, e como o senhor mesmo diz, apenas uma peça de uma máquina maior, mas o Sr. é o mais famoso e tem muito mais poder que muitos secretários. Porque? Pelo amor de Deus, não diga isso. Não é verdade. Eu sou apenas o mais conhecido por estar no meio do maior número de confusões, ou melhor, de demandas para resolver, e como isso é notícia eu termino por aparecer mais nas fotos. Só isso. Acho até que é pelos cabelos brancos (risos). E isso de poder não existe. Quem exerce o poder é o governador, e por delegação dele os Secretários e eu em nome do secretário vou negociar as demandas. Só isso. É uma questão de hierarquia. E por outro lado se todo dia tem greve, passeata, manifestação e tantas outras demandas deixadas do governo passado, e eu sou a pessoa que tem a confiança do governador e do Secretário para resolver, eu o estou representando; no entanto a autoridade é dele e eu não faço nada, absolutamente nada que não seja do conhecimento e com autorização do governador e do Secretário. E agradeço muito essa confiança que ambos têm por mim. O mérito é deles, que é quem traçam as diretrizes, eu só as executo. Tenho minhas limitações e muitas vezes me socorro é com eles. Que também são meus amigos. Tudo é uma questão de confiança. Se um dia eu quebrar, perco também o poder de negociar. Por isso tenho que ser leal, e o sou, a ambos, e fiel aos princípios que norteiam esses valores. E assim procuro me manter coerente politicamente como sempre fui. E revolucionário como sempre quis ser, fazendo política com companheirismo. Pois o revolucionário não faz política com amiguismo, mas com companheirismo. Quando quer ajudar não joga flores. Tira os espinhos. E é assim que gosto de trabalhar. Resolvendo os problemas. Revolucionário de resultado.

Por falar em revolucionário, o senhor tem uma trajetória de luta de fazer inveja a muitos políticos. Pesquisando na Internet encontramos inúmeras histórias e diversas atividades que o senhor sempre exerceu e por onde passou foi elogiado. Meio polêmico, mas sempre elogiado, por sua coerência e honestidade. Isso é fruto de que?   Exatamente de minha coerência e honestidade. Você foi até meio generosa em dizer meio polêmico, porque na verdade dizem mesmo é que sempre fui muito polêmico. Mas isso é fruto de minha determinação. Coragem e idealismo. Todo revolucionário tem que ter essas características.

Para o senhor o que é um revolucionário?  É claro que apenas em uma frase ou em poucas palavras eu não poderei definir o que é um revolucionário, pois este tem infinitas qualidades, mas digo-lhe algumas características básicas que devem nortear suas ações e assim lhe mensuram o caráter do revolucionário. Eu diria que em primeiro lugar o revolucionário pode buscar ser, mas o bom é quando ele se descobre revolucionário, através de suas ações e de seu caráter. Eu me descobrir revolucionário quando percebi que não tinha nenhuma ambição material e nenhuma vaidade pessoal. Devo muito disso a Khadafy e a Prestes, pela convivência com eles.  Também o revolucionário não é melhor do que ninguém, mas será sempre diferente de todos. Pois sempre estará disposto ao sacrifício e não ao benefício. Um revolucionário não que ser importante, quer ser útil: a Revolução e a Humanidade. Tentará mudar o mundo e não apenas melhora-lo. Senão o mundo vai muda-lo e para pior. Também podemos afirmar que todo revolucionário tem que ter o punho de ferro, mas o coração de ouro. Lutar por amor a causa, com ética e fundamentada numa moral revolucionária inquebrantável. E o mais importante de todas as características do revolucionário, ele nunca desejará a morte do pecador, mas a destruição do pecado. Ou seja: não pode matar o capitalista, mas destruir o capitalismo. Se caluniado, preso ou torturado, mesmo assim terá que nortear sua ação por amor a humanidade e o respeito ao ser humano. Seu perdão deve ser sua vingança. É só coadunarmos os pensamentos dos dois maiores revolucionários da história da humanidade. Jesus, o Cristo. E Guevara, o Che. Cristo disse: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. E o Che disse: ” Todo revolucionário é movido por grandes sentimentos de amor “.  Para mim isso resume o que é um revolucionário. O pensamento e a vida dos dois.  E eu finalizaria afirmando que um Revolucionário, com R maiúsculo é aquele sujeito autêntico, romântico, ágil, forte, honesto, humilde, espirituoso, paciente, audacioso, fraterno, generoso, bondoso, resistente, libertário, sereno, ético, responsável, insistente, firme, sincero, compreensivo, pacifista, humanista, estudioso, amoroso, disciplinado, internacionalista, fiel e solidário. Um aventureiro, que como dizia o Che, daqueles que arrisca o próprio pescoço para lutar pelo que acredita.  Ser revolucionário é ser principalmente um combatente em favor de causas humanitárias, em defesa dos direitos humanos, do meio ambiente e da Paz Mundial. Essas são algumas das características que norteiam a vida de um revolucionário. Muitas vezes um solitário, mas que nunca se rende aos encantos dos benefícios, nem jamais retrocede ante as dificuldades e perigos da luta.

Solitário porquê? Até por que muitas vezes será incompreendido, caluniado e combatido, porque um revolucionário é um contestador, um revoltado e um eterno combatente. Ou seja: Um revolucionário será chamado de contestador porque contestará todo o sistema de injustiça e repressão que domina o mundo. Será um revoltado, sempre, contra a fome, a miséria, o desemprego, a tortura, as injustiças e a falta de liberdade, dentre outras mazelas. E será sempre um combatente porque combaterá pela justiça e a liberdade em qualquer parte do mundo. Só em você se indignar contra tudo isso você já é um revolucionário ou uma revolucionária. Você só tem que se rebelar. Assim eu entendo que as pessoas podem até se decepcionarem com os governos e as autoridades por tudo isso que falei acima. E é bom a decepção, porque ela gera uma reação. O que não pode acontecer é a desilusão, pois esta gera a acomodação. Então seja um revolucionário, rebele-se contra as injustiças, o preconceito, a discriminação, a fome, a tortura, o terrorismo, a violência e todas as mazelas do capitalismo selvagem e explorador. Para isso basta ter três coisas para se iniciar como revolucionário; tem que ter Formação Ideológica, Coerência Política e Disciplina Revolucionária, são três dos pré-requisitos básicos para o ser um revolucionário.

E em termos pessoais, familiar, como é um revolucionário? Um ser humano maravilhoso. Defini-lo é difícil, mas através de exemplos eu procuraria dizer como é um revolucionário. Já citei acima o maior de todos. Nosso Senhor Jesus Cristo e um dos seus maiores seguidores que foi Che Guevara, tanto que o Che fez uma poesia linda para Cristo que diz: «Cristo, te amo, não porque desceste de uma estrela, mas porque me revelaste que o homem tem lágrimas, angustias e chaves, para abrir as portas fechadas da luz. Tu me ensinaste que o homem é um Deus, um pobre Deus, crucificado como tu. E aquele que está á tua esquerda, no Gólgota, o mau ladrão, também é um Deus». Isso foi na Bolívia em 1967, pouco antes dele ser assassinado. Mas então: eu citaria como exemplos de revolucionários e revolucionárias a serem seguidos e seguidas, naturalmente respeitando-se a dimensão espiritual e histórica de cada um, figuras históricas como Buda, Maomé, Abraão e Maria, mãe de Jesus. Numa outra dimensão eu lembraria, não comparando, mas citando como referência de pessoas que seguiram e tiveram como exemplo os que citei acima, Ghandy, Mandela, Luther King, Papa João XXIII, Madre Teresa de Calcutá, além de líderes políticos que revolucionaram o mundo com sua arte e políticas. Assim o foram, Zapata, Lenin, Ho Chi min, como também diversas mulheres que podemos nos orgulhar, como Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontai, Clara Zetikin, Pagú, Frida Kalla, Olga Benário, Ângela Davis, Eva Peron, dentre outras. Um revolucionário será as vezes um solitário porque também se perderá em seus sonhos de amor a humanidade e só ele saberá realizar. Todo revolucionário terá duas paixões e um grande amor. Suas paixões são o Partido ou movimento a que pertence e a Revolução. Seu amor, a Humanidade.

Quanto a isso, a vida intima pessoal de um revolucionário. Como é?  Um revolucionário terá princípios tais como o respeito e o amor a família, a proteção dos filhos. Será sempre uma pessoa preocupada com a segurança familiar, no que pese ter que se sacrificar muitas vezes e não poder ter o convívio dela, pois será perseguido, terá que viver na clandestinidade, longe dos pais, da mãe, dos irmãos. Eu sofri muito.  Para mim o final dos anos de 1968 e 69, mas principalmente todo o ano de 1970, e o começo da década foram de muito sofrimento. Viver escondido como vivi.  Outro ponto é a vida amorosa do revolucionário. Se a companheira ou companheiro não vive aquilo com ele é difícil. Também existem os princípios como:  o revolucionário deve ser sempre o mais fiel dos homens, e geralmente os revolucionários são tão espontâneos que declaram aberta e publicamente seu amor a humanidade, mas são, vias de regra, os mais tímidos para declararem seu amor à pessoa amada. Também um revolucionário é o mais ardente dos amantes, o mais viril e volúvel dos parceiros, mas também o mais fiel dos seres humanos. E vou mais adiante: O amor de um revolucionário por uma mulher ou de uma revolucionária por um homem só deve ser superado pelo amor de ambos pela a Humanidade. Todo revolucionário, como todo ser humano comum, pode se sentir atraído pela beleza física e exterior do sexo oposto, mas só deve se deixar conquistar, e/ou partir para a conquista se tiver capacidade de descobrir a beleza interior do parceiro, e de fazê-la feliz. Por isso que outra característica básica do revolucionário, quanto a essa questão, é que revolucionário não faz sexo, faz amor. Um revolucionário deve ser um homem completo. E completar a parceira.

E um Guerrilheiro, o que é? Pois o senhor foi um guerrilheiro. Lutou contra a ditadura. Pode nos definir o que seria?  Primeiro vamos definir o que é Guerrilha e depois o papel de um guerrilheiro. A Guerra de Guerrilha é o que chamaríamos de pequena guerra, é um método, ela é desenvolvida através de métodos não convencionais, pois ela tem toda uma característica diferente das guerras tradicionais. O Exército regular ganha para lutar, o guerrilheiro luta para ganhar. Essa é uma das diferenças.  Começo dizendo que um soldado guerrilheiro, pois um guerrilheiro é um soldado da Revolução e como tal totalmente diferente do soldado do Exército regular. Enquanto este, o soldado do exército regular é um mercenário, a serviço geralmente do imperialismo, terceirizado para a defesa do Capital internacional, como acontece hoje no Afeganistão, Líbia, Iraque, etc, o guerrilheiro luta por uma causa. Mas como método de luta também pode ser utilizado por grupos outros que não tem uma ideologia definida e usa-la apenas para obter vantagens pessoais. Por isso é bom manter essa diferença e saber separar as coisas. Um guerrilheiro, revolucionário, que luta pelo que acredita é autentico e verdadeiro. Merece respeito. O outro que luta apenas para ganhar dinheiro não é um guerrilheiro, é um paramilitar e mercenário. O guerrilheiro na verdade ele é um homem que utiliza os métodos da luta guerrilheira, mas tem que ser um revolucionário. Luta pelo bem da humanidade. Por isso também um guerrilheiro será sempre um homem solitário, pois nunca terá uma casa, uma vez que seu lar será sempre seu campo de batalha; como sonhos, as necessidades da humanidade; e como objetivo de vida tornar realidade os ideais de seu povo. Os sonhos de uma humanidade livre e nações justas onde prevaleça a justiça e a liberdade é que movem as ações dos guerrilheiros e norteiam os sonhos dos revolucionários.  Consola-nos saber que seremos também, sempre: os sobreviventes da utopia.  Todo revolucionário, se necessário, um dia será um guerrilheiro, mas nem sempre um guerrilheiro será um revolucionário. Ser revolucionário é viver um estado de espírito. Ser um guerrilheiro é ser corajoso e várias outras características, dentre elas desenvolver uma tática de luta diferente da tradicional. O guerrilheiro será sempre aquele que tornará os sonhos do revolucionário uma realidade, e não o deixará cair no pesadelo.

E terrorismo, por que os ignorantes políticos confundem sempre essas palavras. Revolucionário. Guerrilheiro e Terrorista? É verdade. Confundem. Mas isso é fruto do próprio terrorismo desenvolvido por governos fascistas e reacionários, que praticam o terrorismo de Estado, o terrorismo midiático e o terrorismo cultural. Tudo junto para manipular a opinião pública. E assim fazer parecer. Por isso o terrorismo que é hoje a maior praga do mundo precisa ser combatido em suas causas e não apenas em seus efeitos. Terrorismo não se debate. Combate-se. Eu tenho dito em diversas palestras e conferencias algumas formas de combatê-lo. Mas cada vez mais vejo que alguns governos, principalmente dos países submissos ao imperialismo não tem o menor interesse em combate-lo. Pois isso dá muito lucro para os EUA e Israel. São os dois países que mais lucram com o terrorismo no mundo.

Como assim? A ambos não interessa a Paz, nem no Oriente Médio nem em qualquer outra parte do mundo. Suas economias sobrevivem disso. De guerras. E enquanto isso persistir não haverá paz. Veja que quando existe uma perspectiva de paz entre judeus e palestinos, surge um atentado suspeito e acusam os palestinos. Quando sabemos que não são eles que atacam. Mas são quem levam a culpa e aí começa um novo ciclo viciosos de enfrentamento. Assim é em outras partes. As empresas estadunidenses e majoritariamente de judeus são quem mais lucram com o mercado de armas e as corridas armamentistas. E isso tudo tem a ver com a crise do capitalismo internacional.

Novamente eu lhe pergunto: Como a assim? o senhor pode explicar melhor? Claro. Senão vejamos. Segundo Karl Marx, e como marxista não posso me furtar de dar uma explicação cientifica; segundo ele em seus livros e escritos diversos: “Existe, entre os produtores de mercadorias, um endividamento mútuo: O primeiro está endividado para com o segundo, o segundo para com o terceiro, o terceiro para com o quarto, etc. No momento em que, pelas mais variadas razões, um só dentre os produtores, nesta série de endividamentos mútuos, não está em condições de cumprir com seus compromissos, produzem-se perturbações em todo o encadeamento e o processo de produção sofre uma fratura.”  “O juro (…) volta a alcançar seu nível máximo tão logo a nova crise arrebenta, o crédito cessa subitamente, os pagamentos interrompem-se, o processo de reprodução é paralisado. ” “Num sistema de produção em que toda a conexão do processo de reprodução repousa sobre o crédito, quando então o crédito subitamente cessa e passa a valer apenas o pagamento em espécie, tem de sobrevir evidentemente uma crise, uma corrida violenta aos meios de pagamento. ” Ai podemos nos socorrer de um outro grande estudioso do problema das guerras que é o professor Jacques D’Ornellas que em um estudo minucioso nos afirma e detalha isso da seguinte forma: No final dos anos trinta, quando a Alemanha hitlerista preparava sua máquina militar para dar início à Segunda Guerra Mundial, os EUA, aproveitando-se do clima bélico existente, começaram a incrementar sua indústria de armamentos, como meio de reduzirem os efeitos de uma crise de sobreprodução capitalista nos moldes da que ocorrera em 1929-1933. Esse desenvolvimento da indústria bélica dos EUA foi o embrião do que, no pós-guerra, ficou conhecido como “Complexo Industrial Militar”. Esse “complexo” reúne os interesses do Departamento de Estado, do Pentágono, da CIA, da indústria bélica, dos centros de pesquisa militar, dos banqueiros e dos políticos conservadores (direita). Foram esses interesses que fraudaram, com a ajuda ocasional da Suprema Corte, as eleições no ano 2000 e colocaram George W. Bush e sua corrente militarista no governo dos EUA. Os EUA prosseguiram na perversa e criminosa lógica keynesiana da dissipação (destruição) que se desenvolveu com a Segunda Guerra Mundial, com a Guerra da Coréia, com a Guerra do Vietnam, com a Guerra do Golfo (Iraque), com o ataque à Iugoslávia (Kosovo), com as Guerras do Afeganistão e do Iraque, além do apoio a Israel na destruição do Líbano. Então, como os gastos com as guerras (dissipação-destruição) provocavam um aumento do déficit (dívida), eles também inflacionavam o orçamento militar dos EUA, que passou de 50 bilhões de dólares/ano, nos anos sessenta, para 100 bilhões de dólares/ano nos anos setenta; para 200 bilhões de dólares/ano nos anos oitenta; para quase 300 bilhões de dólares/ano nos anos noventa; se aproximou dos 400 bilhões de dólares/ano no início do ano de 2000 e agora situa-se acima dos 700 bilhões de dólares/ano e crescendo. Assim, a Dívida Pública dos EUA é, de fato, a Dívida do Pentágono, enquanto 30 milhões de estadunidenses encontram-se abaixo da linha da pobreza e outros 60 milhões de seus concidadãos pouco acima dela. Dessa forma uma escalada precede a outra. Quando as premissas estão presentes – dívidas impagáveis – a crise torna-se irreversível porque uma escalada precede a outra. Assim, a escalada da guerra provoca a escalada da dívida. A escalada da dívida provoca a escalada dos juros. A escalada dos juros provoca a explosão da crise. Quando os juros aumentam, os contratos firmados anteriormente com juros mais baixos são descumpridos. A inadimplência toma conta da praça e do mercado. Começa então uma corrida em busca do vil metal, o que só faz agravar a situação e provocar um aumento nas taxas de juros porque a procura torna o dinheiro mais escasso e, portanto, mais caro. As guerras vão ficando mais caras, em razão da resistência dos povos que não capitulam, não se deixam escravizar e nem entregam suas fontes de energia sem luta. Essa resistência dos povos agredidos força os EUA a gastarem mais com a reposição dos estoques de mísseis e das bombas consumidas na destruição das cidades e de seus habitantes. Surge então o tenebroso embuste de 11 de setembro de 2001. A dura verdade é que, como as Medidas de Regularização Monopolista de Estado na esfera da política econômica, conforme Nota do FED, o Banco Central norte americano,  de 31-1-2001 (corte nas taxas de juros, de impostos e aumento dos gastos orçamentários), não surtiam os efeitos desejados para a retomada do crescimento econômico, a popularidade do presidente George Bush continuava em baixa, os republicanos haviam perdido um senador e ficaram em minoria, os congressistas relutavam em estourar o orçamento com mais despesas militares porque já haviam aprovado uma redução de impostos meses antes e, como a crise não esmorecia (pior, se agravava), eis que ocorre então o tenebroso embuste de 11 de setembro de 2001. Essa bárbara fórmula de REGULARIZAÇÃO MONOPOLISTA ANTICÍCLICA DA ECONOMIA DOS EUA, que os belicistas do Pentágono e da CIA produziram para reativar a economia estadunidense, através do seu principal aríete – o Complexo Industrial Militar — deixa bem evidente a monstruosidade sem limite dessas verdadeiras bestas de guerra.  Assim, ficou evidente que a escalada militar contra o Afeganistão e a Guerra contra o Iraque só puderam ser levadas a efeito após o 11 de setembro. Isto é, caso não houvesse o sinistro episódio e a subsequente comoção da opinião pública dos EUA por ele desencadeada, não haveria o indispensável aval ao governo de George W. Bush para o seu funesto projeto de “guerra infinita”. Porque foi aquele ataque que elevou a popularidade de George Bush. Foi aquele ataque que possibilitou a abertura de duas frentes de guerra e o assalto aos poços de petróleo do Iraque. Foi aquele ataque que transformou minoria em maioria no Congresso, cujo orçamento foi estourado com mais despesas militares, além do irresponsável aumento da Dívida Fiscal. Foi aquele ataque que incrementou a produção da não-mercadoria, da indústria de armas, da destruição e da morte e que depende de um único consumidor – o próprio governo. Foi também aquele ataque que produziu uma inflação de guerra e elevou a Dívida Pública dos EUA ao patamar explosivo e destrutivo em que agora ela se encontra. Entretanto, os EUA ministraram o mesmo antibiótico para um organismo que já havia criado resistência contra ele. É de vital importância, diante da atual conjuntura de crise internacional, que se revisitem os fatos da história onde estão registrados os vários exemplos de pretextos invocados para provocar ataques ou guerras. O livro de Thierry Meyssan “11 de setembro de 2001 – Uma terrível farsa – Nenhum avião atingiu o Pentágono! ” Escreve, nas páginas 94 e 95: “Nascido em 1957, Osama (Bin Laden) é diplomado em administração e em economia na King Abdul Aziz University, e considerado um excelente homem de negócios. Em dezembro de 1979, seu tutor, o príncipe Turki al-Fayçal al-Saud (diretor dos serviços secretos sauditas de 1977 a agosto de 2001), solicitou que ele gerenciasse as finanças das operações secretas da CIA no Afeganistão. Em dez anos, a CIA investiu dois bilhões de dólares no Afeganistão para lutar contra a URSS, fazendo dessas operações as mais custosas até então engajadas por ela. Ao invés de lutar eles próprios, os serviços sauditas e estadunidenses recrutaram islamitas, formaram-nos, armaram-nos e manipularam-nos, numa jihad (guerra religiosa) para combater e vencer os soviéticos. Osama Bin Laden gerenciava as necessidades desse mundo excêntrico num arquivo de informática chamado “Al Qaeda” (que quer dizer, literalmente, “a base” de dados).” O mesmo Autor, na página 135, afirma: “Os elementos de que dispomos agora nos fazem pensar que os atentados de 11 de setembro foram comandados do interior do aparelho de Estado americano. ” Na página 145 de seu livro, Thierry Meyssan registra “a declaração de Bruce Hoffman (Vice-presidente da Rand Corporation) numa conferência publicada pela US Air Force Academy no mês de março de 2001 (seis meses antes de 11 de setembro); “Agora, tomem consciência de que é totalmente possível derrubar a Torre Norte sobre a Torre Sul e matar 60.000 pessoas (…) Eles encontrarão outras armas, outras táticas e outros meios para atingir seus alvos. Eles têm uma seleção evidente de armas, inclusive de aviões teleguiados. ”  E aí podemos nos perguntar como o dólar se transformou em arma de guerra? E respondemos afirmando que em agosto de 1971, os EUA quebraram, rasgaram os contratos de Bretton Woods que exigiam o respectivo lastro de uma onça de ouro (31,1 gr) para 35 dólares fabricados. Atualmente, são necessários mais de mil dólares pela mesma onça de ouro. E os EUA só romperam com o padrão ouro porque os financiadores de sua dívida de guerra ficaram com receio de guardar uma folha de papel (título) e preferiram trocá-los por ouro. E, como os EUA não possuíam estoque suficiente do precioso metal, porque o haviam consumido, mutilando e matando vietnamitas e seus próprios soldados, decidiram quebrar o Acordo de Bretton Woods. Assim, a âncora do lastro ouro para emissão de moeda foi levantada e abolida. A partir de então as emissões de dólares perderam sua referência e tornaram a moeda estadunidense desmaterializada e virtual, que navega, à deriva, num oceano de dívidas. Agora a tempestade chegou porque seus ventos foram plantados pelo governo Nixon há mais de 36 anos, quando a Dívida Pública dos EUA alcançava, apenas, US$ 409,5 bilhões. É por esta razão que a crise do capitalismo que hoje testemunhamos começou a ser agravada naquele 15 de agosto de 1971, cujo criminoso objetivo foi prolongar uma Guerra condenada pela opinião pública estadunidense e mundial, que ceifou a vida de milhares de vietcongs que defendiam a soberania de seu país, e também dos soldados estadunidenses que a violavam. Algo semelhante ao que ocorre na Guerra ao Iraque nos dias atuais. O grande problema criado pelos EUA com a ruptura do Acordo de Bretton Woods é o fato de que não é apenas o dólar que se tornou fictício, mas também a Dívida Pública que o respalda com as emissões de Títulos do Tesouro Estadunidense. E é impossível descolar o Dólar da Dívida, e a Dívida do Título. Essa é a maior preocupação para as chancelarias dos países que detêm centenas de bilhões de dólares estadunidenses em reserva ou em Títulos do Tesouro dos EUA. O que fazer com um dólar que se desvaloriza simultaneamente com a desvalorização dos Títulos do Tesouro, na razão direta do aumento da  Dívida Pública dos EUA?  Essa é uma das razões da fuga dos investimentos para petróleo, ouro, minérios e cereais. Os investidores  estão agora, desesperadamente, em busca de lastro, aquele lastro ouro de outrora que foi abolido para permitir que os EUA continuassem sua  política de guerra! Entretanto, essa procura aflita dos investidores por uma “moeda física”, já que o dólar e os Títulos do Tesouro dos EUA estão derretendo, acaba por inflacionar o “produto” que eles estão buscando. De onde se conclui que os investidores estão perdidos no mato e sem cachorro.


E o que isso tem haver com o Brasil? Existe alguma interligação?   Sim. E novamente vou me socorrer do estudo e trabalho do professor D”Ornellas e repetir o que ele mostra nos afirmando que a política de guerra dos EUA gera um aumento de sua Dívida Pública e da inflação decorrente dos seus gastos bélicos. Essa inflação é repassada para outros países e também para o Brasil,  que é pressionado a subsidiar o Déficit, a Dívida Pública dos EUA, no ato do pagamento dos juros e nas antecipações de pagamento da Dívida Externa para os banqueiros internacionais. E a Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada pelo governo FHC e não revogada pelo governo Lula, é a forma que assume o roubo do dinheiro dos trabalhadores brasileiros e sua transferência para o caixa dos banqueiros. É esse dinheiro que agora vai ser usado na compra de Títulos do Tesouro dos EUA, no criminoso propósito de financiar as guerras de agressão aos povos e extrair lucro da destruição de sonhos e de vidas! Portanto, todo o dinheiro que nos falta para comprar o pão, o remédio, o agasalho, pagar o aluguel, a escola, socorrer nossos enfermos, nossas crianças, nossos trabalhadores sem-terra, sem-teto e sem emprego, vai financiar a máquina de guerra dos EUA, as suas bases militares, seus porta-aviões, seus submarinos, seus mísseis, suas tropas de ocupação, suas bombas de fragmentação, que foram usadas para assassinar guerrilheiros das FARC que se encontravam no Equador, em missão humanitária para trocar prisioneiros e assim possibilitar as negociações  para a paz na Colômbia.   É o chamado “dever de casa” e a “responsabilidade fiscal” que nos obrigam a praticar! Esta é uma responsabilidade fiscal impossível de ser cumprida sem que ocorram as “desgraças” como a epidemia de dengue que assola o Rio de Janeiro, porque não foi o povo quem fez a dívida, mas os usurpadores do poder que a fizeram em seu nome! A matemática não tem partido. Está provado que só de juros ilegais, amortizações e pagamentos antecipados da Dívida Externa, que deveria ter sido auditorada há mais de 18 anos, conforme determina o Artigo 26 do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) da Carta Magna de 1988, os trabalhadores  pagam aos banqueiros mais de 100 mil dólares por minuto, enquanto um brasileiro é morto prematuramente. São mais de seis milhões de dólares a cada hora, para outras 60 vítimas! Ao final de um dia, nós recolheremos os corpos de 1.440 compatriotas, jovens em sua imensa maioria, que um dia sonharam com um país que os respeitasse. De fato, não existe quadrilha de delinquentes mais nocivas, nem crime mais organizado, do que as quadrilhas de banqueiros internacionais e seus asseclas na CIA e no Pentágono, em sua vã e fracassada tentativa de dominar o mundo! A dura realidade é que, para manter esse crescimento econômico de predadores da natureza, nosso solo é degradado, nossos rios são poluídos, nossa floresta amazônica é derrubada e queimada para dar lugar ao pasto para o gado, para o agronegócio, para a produção do agrocombustível de cana ou para a produção de carvão vegetal, onde o trabalho escravo de crianças tem sido uma constante. E, para se obter saldos positivos na balança comercial e pagar banqueiros, queimamos, literalmente, o futuro do Brasil porque os senadores José Sarney e Renan Calheiros, que presidiram o Senado da República nos últimos anos, descumpriram  o mandamento constitucional capitulado no Artigo 26 do ADCT, que determina: “No prazo de um ano, a contar da promulgação da Constituição, o Congresso Nacional promoverá, através de Comissão mista, exame analítico e pericial dos atos e fatos geradores do endividamento externo brasileiro.” Frente a tal desrespeito, a OAB impetrou Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal Federal, para que o Congresso Nacional cumpra o disposto no Artigo 26 do ADCT. Esta ADPF tomou o número 59, cuja tramitação pode ser consultada no site www.stf.gov.br, no link “acompanhamento processual” (pedir ADPFs). A referida ADPF foi distribuída ao Ministro Carlos Ayres de  Britto. A ganância e o egoísmo dos banqueiros impediu que a lei fosse cumprida!  O Professor Jacques D’Ornellas foi Vice-relator da CPI da Dívida Externa e FMI da Câmara dos Deputados em 1983-1984, e colocou praticamente em seu relatório tudo que eu disse aqui. E concluo dizendo. Marx tinha razão. Ela já explicava essa questão da guerra a quase duzentos anos atrás. . Para mim os EUA já não tem apenas tem governos terroristas. Os EUA são um Estado Terrorista. É só lembrar que foram eles que criaram, financiaram e treinaram a Al Qaeda. E hoje fazem a mesma coisa com o Estado Islâmico, que é uma empresa política, eu diria, criada, treinada e financiada pelos EUA e Israel para manter o mundo em constante medo e a cada dia os governos serem obrigados a gastarem mais e mais com armas e criarem algumas situações como no Oriente Médio a ficar em constante ebulição política. E consequentemente numa desenfreada corrida armamentista que vai gerar o que eu disse acima.



Bom, o senhor deu uma aula de Geopolítica e de Estudos Estratégicos, além de Economia Política e Segurança Internacional. Muito bom, mas nós gostaríamos de saber como o Acilino Ribeiro, que tem todo esse acumulo de conhecimento, essa liderança junto aos movimentos sociais e um enorme e fundamental entrosamento e relação com diversas ONGs internacionais e embaixadas poderia ajudar o DF a sair da crise existente? Criando os mecanismos de Participação Popular e Controle Social já vamos dar um grande passo e fazer a diferença. Somos a única unidade da Federação a estar desenvolvendo um projeto de participação popular que está chamando a atenção do mundo. Vocês viram isso aqui hoje, com a participação e curiosidade de diversos embaixadores, correspondentes estrangeiros. Aqui mesmo na entrevista, na minha frente, existem três jornalistas, representando seis jornais estrangeiros. O governador está imbuído dessa determinação e ele vai transformar Brasília na Capital do dialogo e da participação. Já fomos inclusive convidados a participar do Fórum Social Mundial do próximo ano onde deveremos levar um pouco dessa ainda embrionária experiência, mas que já chama atenção. Participaremos dos debates.


O senhor é considerado um hábil negociador. Conhecido como o “Diplomata”, o homem do governo Rollemberg para atenuar a pressão contra o governo, atendendo as demandas da sociedade. Uma espécie de interlocutor. Mas esse interlocutor que hoje brilha e faz um extraordinário sucesso por sempre está obtendo resultados positivos é fruto de que? Eu diria que da proposta séria e concreta do governador. E também um pouco da relação que temos com o movimento social. O governador tem a credibilidade do movimento. Ele tem uma história em Brasília. E mesmo que seja eu que conduza o processo, mas é ele que me dá esse respaldo. Sem isso eu não poderia seguir adiante. Além do governador devo agradecer ao Secretário Sergio Sampaio e ao Adjunto, Igor Torkaski que agora juntos, os três é que vamos conduzir o dialogo. Ao depositarem a confiança em mim e vocês viram isso hoje no excelente discurso do Secretário Sergio Sampaio que demostrou um profundo conhecimento das políticas de Participação e também um profundo compromisso com os movimentos sociais acredito que avançaremos muito nesse projeto.


O senhor foi considerado um dos mais radicais líderes da esquerda brasileira, mas… Isso foi ha muito tempo, numa época em que a morte era o preço da coragem. Num enfrentamento com uma ditadura. Não tinha meio termo. Só os kamikazes sobrevivam. Por isso que estou vivo…

Sim, vamos chegar lá. O que queremos dizer é que hoje o senhor é considerado um político moderado, habilidoso, diplomático… Ahhhh, gostei, (risos). As ideias evoluem, mas o estigma fica, não é?
O que mudou? O político ou a política? O Acilino ou a conjuntura? E esse trabalho político que o senhor faz com os movimentos sociais, como é? Veja bem. Eu continuo coerente com minhas ideias. Meus princípios continuam os mesmos. Eu não mudei nada deles. Eu mudei a estratégia de luta, porque hoje a conjuntura política do país é outra não mais aquela de trinta ou quarenta anos atrás. Também o homem amadurece. Acumula experiências e conhecimentos. Adquiri maturidade e passa a refletir mais que agir antes das tomadas de decisões. Política se faz com Princípios e Estratégias. Temos nossos Princípios Éticos e Padrões Morais, que devem nortear nossas lutas. E nossas Estratégias Políticas e Táticas Operacionais que definem nossas ações. Então vejamos. O Estado tem suas instituições públicas, que os representam, e a Sociedade tem seus movimentos sociais, que também lhe representam. Existem apenas, e tão somente três tipos de luta. A Luta Institucional; a Luta de Massa e a Luta Armada. A primeira, a Luta Institucional que é a normal e vista como melhor deve ser preservada para assim mantermos e avançarmos no processo democrático. Ela se caracteriza pelas disputas, concursos e eleições, com candidaturas e até mesmo anticandidatura. Se ela se fecha, como aconteceu durante o regime militar, você tem a saída da segunda opção. A Luta de Massa, que se caracterizam pelas greves, passeatas, jornadas de lutas, manifestações públicas, atos populares, invasões de fabricas e ocupações de terras, etc. Se um governo proíbe isso também e não deixa nenhum canal por onde a sociedade possa respirar, aí não existe outra saída, senão a opção da Luta Armada, como aconteceu na ditadura, anos atrás quando formos para a luta armada contra a ditadura. E essa não deve ser inicialmente uma ação voluntarista e nem mesmo como últimos recursos; deve ser mais uma reação que uma ação propriamente dita, como foi contra o regime militar no Brasil.  A partir daí, seja qual for o tipo de luta. Institucional, de Massa ou Armada, existem duas etapas de luta. A de Resistencia, que se caracteriza pela etapa de Acumulação de Forças, e a de Libertação que se caracteriza pela Insurreição Popular. Cada uma tem suas características próprias como diversas variantes, as quais eu estabeleço no meu livro Estratégia e Tática da Luta Revolucionária escrito em 1984, mas atualizadíssimo. Constituída essas etapas devemos proceder os períodos de ação, que se interligam e se constituem em cinco. Que são: Articulação; Conscientização, Organização, Mobilização e Participação. A Articulação é de Quadros e Lideranças; a Conscientização se caracteriza pela Formação Política e Educação Popular, a Organização, de Base Social e Territorial, a Mobilização Popular e a Participação Política. Definida essas etapas, tipos e períodos, temos que nos fundamentar dentro da Ideologia, do Projeto e da Organização, e isso qualquer estudante de Sociologia sabe. Devemos então proceder o Planejamento Estratégico, a Gestão Estratégica e a Avaliação Estratégica. Ai você começa a definir seu projeto de luta política.  É assim que faço.

Lendo um pouco de sua história, pelas suas andanças, lutas e combates o senhor como dissemos acima é considerado um estrategista, inclusive se fala que o senhor quando está falando está agitando, e quando está calado está conspirando. Como é isso?  Ahahaha (risos) era o que meus antigos adversários políticos diziam lá no Piauí. Mas isso era intriga da oposição (ahahah).  Eu me considero até um tanto ingênuo em política, pois eu falo muito.  E isso me lembra de uma coisa que sempre digo em política: Que o homem deve sempre se manter puro ideologicamente, mas nunca ser ingênuo politicamente. Essa é uma das regras da política com ética.

O senhor tinha um apelido no Piauí, que seus adversários lhe chamavam; A Serpente Vermelha. Porque? Nossa… até isso você foram cavar. (Risos novamente) Na verdade era um tempo onde todos queriam ser governo e poucos tinham coragem de ser oposição ou ir para ela. Eu fui e sempre ataquei de frente, mas eu tinha certas estratégias que só eu sabia e só eu usava. Agia com meus princípios mas minha estratégia era infalível.  E aí eu inventei outro estilo de fazer política. Era o final da ditadura, e no Piauí eu enfrentava uma oligarquia. Éramos poucos na oposição. Então eu disse. Vou fazer política, com três coisas: com a astúcia da raposa, a paciência da preguiça e o golpe da serpente. Era assim que eu fazia.  E usava muito da estratégia da Luta de Massa aplicada a Luta Institucional. Para sobreviver tinha que ter muita astúcia. Não tinha forças suficientes para enfrentar os adversários em várias frentes. Por isso tinha que ter paciência e acumular forças. E quando tinha a oportunidade desferia o golpe contra a ditadura e a oligarquia como faz a serpente. Um golpe só. E resolvia a questão ali. E como era do Partido Comunista me chamavam de a serpente vermelha. (hahahahah)
Mudando de tema. O senhor em recente entrevista a um jornal aqui de Brasília falou sobre sua trajetória, em outras entrevistas fala da Esquerda Cristã, que é um Revolucionário Cristão; fala de uma Nova Esquerda, da Revolução Cidadã. Explique-nos o que é isso?  Revolucionário cristão é realmente aquilo que venho dizendo em minhas palestras, conferencias e entrevistas; É um homem novo que faz política de forma diferente do tradicional.  Existem dois tipos de políticos; O tradicional e o revolucionário. O tradicional tem interesses, o revolucionário tem causas. O tradicional quer fazer carreira política, o revolucionário quer fazer trabalho político. O tradicional tem preço, o revolucionário tem valores. O tradicional é conservador, o revolucionário é progressista. E o político que se caracteriza pela defesa dos princípios revolucionários do cristianismo é um político revolucionário. Então eu fundamento os princípios do revolucionário cristão baseado no seguinte: Nada impede que Cristãos e Marxistas, juntos, lutem pela Revolução e construam o Socialismo, que em síntese, é o Reino de Justiça e Igualdade que Cristo sonhou. A diferença é que os cristãos querem este mundo no céu, após a morte. Os marxistas querem este mundo na terra, em vida.  Então, cristãos e marxistas, querem a mesma coisa, num mundo de Igualdade, Fraternidade e Liberdade, onde todos tenham Pão e Terra. Então, vamos lutar para termos este reino dos céus e na terra. Somos Marxista-Cristãos rumo à revolução e ao socialismo. Juntos, carregando a cruz que simboliza o sofrimento pelo qual estamos predestinados, com a foice, abrindo os caminhos que teremos de percorrer para fazer triunfar a Revolução, e o martelo, com o qual construiremos o Socialismo, e um Novo Mundo se abrirá numa terra de abundância e num céu de esperança. Ambos, Cristãos e Marxistas, pensam iguais e fraternalmente para realizar os sonhos em que se fundamenta o cristianismo e a utopia em que se baseia o marxismo. E assim, argumentos não nos faltam. Os teólogos e filósofos das igrejas cristãs, dizem que para ser cristão e humanista, basta o homem acreditar em alguma coisa, pois nós revolucionários, acreditamos na revolução. Na revolução socialista, acreditamos que o homem tem que dividir o pão e viver em comunhão. Assim foi dito, assim está escrito, e assim é o Sermão da Montanha: “Daí de comer a quem tem fome e água a quem tem sede”. Por isso os cristãos foram os primeiros a serem jogados nas arenas dos césares. E nós revolucionários os primeiros a sermos jogados nos porões das ditaduras. Acreditamos em muitas coisas. Não somos ateus. Somos crentes. Acreditamos na humanidade. Acreditamos no Divino Revolucionário. Abençoado Guerrilheiro da Paz. Na Utopia e na Revolução. Acreditamos que a palavra Comunismo vem da palavra Comunhão, viver em comunidade e dividir o pão. Acreditamos em algo ainda maior que é o Sermão da Montanha, o qual foi o primeiro Manifesto Socialista e Revolucionário da História. Que a utopia revolucionaria do socialismo humanista de Cristo, propagado aos quatro cantos do mundo, depois da sua morte, por seus apóstolos Matheus, Lucas, Marcos e João se coaduna, historicamente, com a utopia revolucionária do socialismo cientifico de Marx e Engels e seus discípulos, Lênin, Mao, Che e vários outros que colocaram em prática o Manifesto Comunista de 1848.  Cristo foi chamado de subversivo porque subverteu a ordem do Império Romano, quando suas palavras atingiram em cheio a autoridade dos Césares, em especial quando questionava sua divindade ao afirmar: “A César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, ou seja, a César somente os impostos, cobrados através de seu poder temporal, mas a Fé, somente a Deus. Em sua pregação revolucionária, Cristo foi chamado de agitador por pregar o Sermão da Montanha, que em si era um manifesto de revolta, contra a fome, a miséria e a violência que imperava no mundo, mas principalmente uma rebelião contra o imperialismo romano que dominava o mundo. Por reunir multidões, e cada vez mais, se tornar um líder popular e revolucionário, pelos métodos usados, e, portanto, não só religiosos, mas políticos principalmente, perseguido pelas legiões romanas e os sacerdotes judeus usou a tática de guerrilha, quando teve que pregar e fazer o Sermão nas catacumbas e caverna do deserto. Por isso também, foi taxado de guerrilheiro. Este mesmo Cristo, não se incomodou quando lhe acusaram de ser um revolucionário, apenas usou da única arma que dispunha naquele momento para expulsar de seu templo, os mercadores que o profanavam, como hoje o fazem os capitalistas ao profanarem as instituições existentes, e os revolucionários, internacionalistas lutam para os expulsarem dos palácios que legalizam suas ações. E assim, Cristo foi considerado revolucionário internacionalista, socialista e comunista, porque sempre amou o próximo, sempre pregou a solidariedade e a divisão dos bens, por isso os revolucionários e socialistas, sempre afirmam que querem dividir riqueza, e não misérias. Por essa luta histórica, os cristãos sempre foram perseguidos, presos e torturados, como nós revolucionários e internacionalistas somos sempre os primeiros a serem perseguidos, presos e torturados. Basta haver qualquer movimento de revolta, sempre dizem: “São os comunistas, socialistas, revolucionários, internacionalistas”. E somos os primeiros a ser jogados nas prisões capitalistas. Dizem que os comunistas são ateus. Como? Se somos aqueles que mais acreditamos em alguma coisa? No que não se vê, não se toca e nem existe?  Como? Se a utopia é nosso maior sonho e a luta nosso eterno caminho? Deus é testemunha do quanto nós revolucionários internacionalistas, comunistas, socialistas e anarquistas desejamos um mundo justo, onde o pecador não seja castigado, mas reeducado, pois um revolucionário não deseja a morte do pecador, mas a destruição do pecado. Nós revolucionários, como o Cristo, somos implacáveis na luta, porém misericordiosos na vitória. E como Ele, a um revolucionário não interessa ser importante, apenas ser útil, por isso não nos interessa ser Presidente ou Deputado. Cristo não teve mandato político nem formação acadêmica, no entanto o povo o proclamou Doutor e o fez Rei, o mais sábio dos doutores e o mais humilde dos reis. Não se precisa propagar ou provar, Cristo foi o maior dos subversivos e o melhor dos revolucionários da história. Subversivo, porque é obrigação de todo humanista, revolucionário internacionalista ser, ou seja, todo homem de formação solidária se revolta contra a fome, a miséria, a violência e o desemprego. Cristo se rebelou contra isso, revoltou-se contra o Governo Romano que implantava a política capitalista, da exploração do homem sobre homem, quando disse: “Bem aventurados aqueles que têm sede e fome de justiça”. (Matheus V, 3) Cristo foi também o maior dos revolucionários, pois sua doutrina até hoje revoluciona o mundo. Suas palavras continuam tendo eco por todo universo, e dentre os profetas de Deus é o que mais questionamentos levantou e maiores ensinamentos fez. Tal como Ele, outros profetas abalaram o mundo com suas ideias de justiça e solidariedade humana, assim o foram Abraão, Maomé, Buda e outros.  As simbologias Cristãs e Marxistas, ambas revolucionárias e socialistas se coadunam, na foice e no martelo, usados por Maria e José, pais de Jesus, ou seja, o que mais simboliza o comunismo é a foice e o martelo, o campo e a cidade, o camponês e o operário. E quem eram Maria e José?  Ele um operário que usava o martelo, Ela, uma camponesa que usava a foice. Ambos eram movidos pela Fé. Essa era sua ideologia. E qual a ideologia que move os comunistas, socialistas e anarquistas a acreditarem na revolução? A Fé. A Fé de que um dia a revolução triunfará e será eterna. E o que simboliza a Fé? A Cruz. A Santa Cruz de Cristo. Esta também de sangue e sofrimento, pois foi na Cruz que seu sangue correu, e lá, onde Ele sofreu. Por isso somos sempre nós, os revolucionários, internacionalistas, comunistas, socialistas e anarquistas libertários os primeiros a derramarem o sangue pela Revolução, quando mortos, e os primeiros a suportarem o sofrimento da tortura, quando presos. Portanto, enquanto a Santa Cruz simboliza o sangue e o sofrimento de Cristo e sua Fé na justiça e na liberdade, a foice e o martelo usados por Maria e José, simbolizavam o Partido e a Revolução. E toda revolução tem que ter um partido ou um movimento revolucionário para dirigi-la. Com a Cruz, a Foice e o Martelo simbolizando, concretamente, a Fé Revolucionária dos cristãos e dos marxistas, que lutam pela libertação, nada tem a temer, e com Cristo como nosso ideólogo, venceremos. Antes, porém, vejamos curiosamente qual era o partido de Cristo, pois Ele era do Partido Internacionalista, do “Amai-vos uns aos outros” sem distinção de raça, sexo ou cor, e provou isso ao responder à Samaritana que lhe negou um copo d’água. “Dá-me de beber” e ela perguntou-lhe: “Como podes tu, sendo palestino, pedir-me de beber que sou Samaritana?”, Cristo disse-lhe: “Não há raças, há almas”.  Ele era do partido da Paz Universal, que condena todo imperialismo armamentista e o terrorismo mundial, seja o terrorismo político, religioso, de estado e até midiático, que mata moralmente também, pois na época já existiam os comunicados oficiais dos governos. Isso Ele fazia ao pregar ao pregar o que está no quinto mandamento: “Não mataras”.  Cristo era do Partido dos Perseguidos, pois Ele disse “Bem aventurados aqueles que sofrem perseguições por amor à justiça” (Matheus V5). Seu partido era o da Solidariedade Humana, que tinha como palavra de ordem “quando deres uma ceia convida os pobres, aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz porque eles não tem como retribuir, mas sentir-se-á retribuído na ressurreição dos justos” (Lucas, 13-14). Seu partido era o Partido dos Direito Humanos, quando disse “Embainha tua espada, porque todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão” (Matheus, 26, 52).  Ele era do Partido dos inocentes, dos ingênuos e puros, e mostrou isso quando declarou: “Deixai vir a mim as criancinhas, pois dela é o reino dos Céus” (Matheus, 19, 13, 15).   Ele era do Partido da Reforma Agrária, quando foi taxativo e disse: “Eu vou trazer, de novo, o meu povo para a terra que é dele. Vão, de novo, construir suas cidades e vão plantar suas lavouras e aproveitar o que plantam. Vou plantar vocês na terra e nunca mais vocês vão ser arrancados dela, porque a terra, eu dei a vocês”. E assim era esse Divino Revolucionário. Abençoado Guerrilheiro da Paz. Essas são algumas das teses básicas que defendo para dizer que a Nova Esquerda é fundamentalmente revolucionária e baseia seus princípios nos ensinamentos filosóficos do cristianismo revolucionário. É o que vocês estão chamando de Esquerda Cristã. Ou pode ser revolucionários cristãos também.

Que extraordinária aula de Teologia Política. Então essas são as bases filosóficas da Esquerda Cristã que deve nortear a ação dos revolucionários cristãos? Em tese sim, mas isso não quer dizer que seja eu que estou orientando nada. Isso é apenas algumas ideais. Veja por exemplo, comparando aquela época com a de hoje: Por volta do ano de 63 a.C., Judá vivia em guerra civil feroz, e os judeus da Palestina, dividiam-se em três partidos. Os FARISEUS, que defendiam radicalmente suas convicções religiosas, os SADUCEUS, que era o partido dos Sacerdotes, e os ESSÊNIOS, adeptos da abstenção integral. Cristo era Essênio. Nesta época, Roma não o controlava totalmente, mas mantinha Judá como uma região associada, pois contava, apesar da divisão dos judeus com a colaboração dos mesmos. Porém, por volta do ano VI da era Cristã, após a morte de Herodes, Judá passa a integrar o Império Romano, como uma província. A juventude Zelote, uma seita religiosa formada por filhos de camponeses que viviam na cidade se revoltou e lança um manifesto mostrando que lutarão pela mudança política. Sua palavra de ordem é: “preferimos o fim do horror, ao horror sem fim“. Eram os primeiros guerrilheiros políticos da era Cristã. Jesus Cristo, condenado a morte pelo Sinédrio Judaico e executado pelo Império Romano, teve sua sentença pronunciada pelo sumo sacerdote judaico.  O Sinédrio, temendo uma intervenção Romana contra as autoridades judaicas, face ao apoio popular que Cristo tinha, o denuncia como rebelde político. Pilatos condena-o à morte como revolucionário zelote, determinando a inscrição na cruz (Jesus de Nazaré – Rei dos Judeus), o que prova que Cristo não foi um preso comum, mas um prisioneiro político, como são todos os revolucionários, internacionalistas, comunistas, socialistas e anarquistas que lutam contra o Imperialismo. Os objetivos e os métodos do imperialismo romano na antiguidade, não diferem, em nada, do imperialismo estadunidense atualmente. Se Cristo viesse ao mundo hoje, o império norte-americano o mataria. E presidentes como George Bush e o próprio Obama não seriam o novo Pilatos, mas seus próprios assassinos. Cristo, portanto, tinha um Partido que pregava a Revolução, e lutou para instalar o socialismo, o comunismo e o anarquismo, que em síntese é o Reino de Deus, e por conseguinte o Reino da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, palavras de ordem da Revolução Francesa de 1789, e que também visava distribuir a todos, Pão, Terra e Paz, que foram a palavra de ordem da Revolução Russa de 1977, e do que mais fala a Bíblia, se entendermos esta como Carta Programa. A burguesia, o latifúndio e o capital especulativo controlam os meios de comunicação, a igreja e as escolas transformam quase tudo em aparelho ideológico a serviço do capital e da reação, e usam de tudo para denegrir a imagem da Revolução e destruir a reputação dos revolucionários. Desde 1922, quando foi fundado o Partido Comunista Brasileiro somos perseguidos, presos, torturados e sobre nós lançam campanhas de calunia, injuria e difamação. Sobre nós revolucionários, internacionalistas, socialistas, comunistas e anarquistas pesam as mesmas acusações que há dois mil anos atrás fizeram contra Cristo. Basta lembrar a história de alguns de nossos líderes como Prestes, Marighela e tantos outros, que foram chamados de agitadores, guerrilheiros, subversivos, revolucionários, etc. Sobre o Partido Comunista Brasileiro, o velho partidão, o glorioso PCB, pesam, vejam só, inúmeras acusações, tais como, a Defesa das Liberdades Democráticas, a Anistia Ampla Geral e Irrestrita, a Convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte , a Diretas Já, o Impeachment de Collor, a Redemocratização de 45, a Luta do Petróleo é Nosso e tantas outras lutas. Tudo, num tempo em que, defender isso era subversão e dava cadeia. Numa época em que a morte era o preço de coragem.  Cristo foi julgado, condenado e assassinado, conforme sentença assinada por Pôncios Pilatos, e pelo calendário romano da época, no dia 25 de março. Essa data é histórica para o PCB, pois a 25 de março 1922 é a data da fundação do Partido Comunista Brasileiro – PCB. Coincidência ou não, herdamos 2000 anos depois, seus ideais e o dever de continuar lutando.  Assassinaram Jesus, mas não mataram seus ideais. Uma ideia não se mata. O tempo passa e os ideais continuam.  Portanto, a luta continua, pois somos herdeiros do velho partidão, e muitos que hoje estão comigo no PSB, Partido Socialista Brasileiro, vieram do PCB. Que os capitalistas nos acusem. Do que quiserem, como acusaram ao Cristo dois mil anos atrás. De subversivos, agitador, revolucionário, guerrilheiros, do que quiser. O povo nos absorverá.  E como revolucionário eu digo apenas o seguinte: Eles sabem o que dizem, mas pai: “Perdoai-os, porque não sabem o que fazem”(Lucas 23-24).  Ter essas características é ser um revolucionário cristão. E pertencer a Esquerda Cristã. Que pode estar dentro de diversos partidos. Não necessariamente em um só. É assim também que se constitui a Nova Esquerda, que aí já tem outro aspecto. Esse aqui é filosófico. O outro é ideológico.

Como assim, explique melhor então sobre a Nova Esquerda. Esse grupo que o senhor está criando. Veja bem. Não vamos ressuscitar a Escola de Frankfurt porque ela não morreu. Vamos reativa-la massivamente, pois a cada momento ela renasce. E reanima-la politicamente, pois nossos grandes filósofos estão apenas com uma idade avançada, mas continuam lúcidos e nos deram um grande e extraordinário legado. Essa foi a maior escola de filosofia política do mundo contemporâneo.  A Nova Esquerda e a Revolução Cidadã estão interligadas. Uma é objeto outra é sujeito. Uma a Organização, outra o Projeto. A Ideologia é a mesma: a junção da doutrina cristã, dos princípios marxistas, da estratégia leninista e da tática guevarista; adaptadas a nova realidade geopolítica do mundo contemporâneo. Para entendermos melhor essa ideia e ver que não é nada difícil, até porque não estou criando nada, apenas tentando reativar algo que já foi tentando antes, fundamentamos tudo em ideais de grandes líderes. Por exemplo: Meus ídolos ainda são os mesmos. Ideólogos? Marx, Engels, Lenin, Mao, Fidel, Che, Khadafy, Ghandy, Mandela, Chávez. Meus filósofos também.  Rousseau, Spinoza, Adorno, Marcuse, Sartre, Camilo Torres, Alexandra Kollontai, Rosa Luxemburgo, Martha Henerker, e grandes pensadores da atualidade, como Noam Chomsky, Edgar Morim, Habermas, além de Slavoj Zizek, David Harvey, Vladimir Safatle, Frei Beto, Leonardo Boff e tantos outros. Pensar a Nova Esquerda é ver o dinamismo do pensamento teórico de pensadores como eles e acompanhar debatendo a realidade e as demandas do mundo. Ser teórico, mas se misturar aqueles que vivem as dificuldades, tentar resolver as demandas e construir saídas para suas causas e não apenas combater seus efeitos. Ser um militante orgânico se possível, senão ser um militante disciplinado em defesa de causas.  Como o foram, Mohamed Ali (Cassius Clay). John Lennon, e são alguns pops stars atualmente. Estes e estas são nossas referencias.

È um novo partido? Não, de forma nenhuma. Pelo contrário. É uma construção política, social, popular e suprapartidária. Congregando gente dos mais diversos segmentos sociais, movimentos populares e partidos políticos. Veja bem, dos mais diversos partidos e matizes política, mas com uma única raiz ideológica. De esquerda, socialista, e revolucionária. Libertária. Com Princípios e Estratégias; Essa Nova Esquerda norteará sua ação pelos Padrões Morais e Princípios Éticos do Socialismo Libertário, do Humanismo Revolucionário e do Internacionalismo Solidário; tendo como Propostas de Luta a defesa dos Direitos Humanos, do Meio Ambiente e da Paz Mundial; o Desenvolvimento Econômico, Social e Sustentável; a Radicalidade Democrática e Participativa; a Defesa Nacional e a Segurança Internacional; A Democracia Global e a Autodeterminação dos Povos; Uma Política de Gêneros Ampla e Democrática no respeito a Diversidade Cultural e Religiosa; e  Políticas Públicas Participativas; A construção do Poder Popular e a implantação da Democracia Direta. Essa Nova Esquerda terá como Forma de Organização; Núcleos de Estudo e Trabalho e será coordenado por um Coletivo Social e Pluripartidário; terá sempre suas discussões resolvidas de forma consensual. Tal como o Fórum Social Mundial. Sua composição será livre e voluntária e seus membros terão direitos e deveres iguais, nos debates e nas instancias de deliberação. Não existirá nenhuma Direção verticalizada, mas um Coletivo horizontalizado com regras básicas de atuação; e as ações da Nova Esquerda se darão através de Reuniões, Encontros, Plenárias, Conferencias e Congressos, quando se tratar de Política de Organização; através de Mesas de Conversas, Aulas e Palestras, Ciclos de Debates; Mostras de Cinema, Cursos de Formação; Seminários e Fóruns, quando se tratar de Política de Formação;  através de Fóruns Sociais, Plenárias Populares e Articulações Partidárias quando se tratar de Política de Mobilização; Por Avisos, Comunicados e através de Redes, quando se tratar de Política de Comunicação; Através de ações solidárias, festas suprapartidárias, inter setoriais e populares quando se tratar de Política de Logística; Outras políticas necessárias e que eventualmente surjam serão objeto de deliberação do Coletivo. Já os fundamentos teóricos da Nova Esquerda encontram-se baseados em três tipos de ideias. A – Nos Princípios Ideológicos, Doutrinas Políticas e Programas Partidários dos grandes filósofos, líderes e estrategistas revolucionários, humanistas e progressistas da humanidade e dos partidos políticos progressistas da história dos povos; B – Nas grandes escolas filosóficas e políticas da humanidade, tendo como referencia a Escola de Frankfurt e seus teóricos e doutrinadores; C – Os textos produzidos e\ou reproduzidos pelo Coletivo da NOVA ESQUERDA após leitura e deliberação de seus membros. Claro que isso ainda estar na cabeça, estamos passando para o papel e logo espero estarmos no meio da massa. No inicio pode ser uma Escola de Quadros, mas espero em breve transformar isso numa Escola de Massa. A UNIPOP – Universidade de Políticas do Movimento Popular foi o embrião dessa ideia. Foi lá que tudo nasceu. Vamos ampliar as discussões e trabalhar para construir uma grande escola de política.

E a Revolução Cidadã? È uma nova concepção de Estado e de Poder. Tem como objetivo, como eu disse antes, a construção do Poder Popular e a implantação da Democracia Direta. O projeto de poder da Democracia Clássica de Platão serviu como base para o mundo antigo. O de Democracia Representativa, após a construção dos estados nacionais e na Idade Média e Moderna para avançar e evoluir na construção desse projeto. Posteriormente ai teve duas vertentes que se consolidaram na Época Contemporânea. A das democracias orientais que se configuraram pelas Democracias Populares nos países socialistas e as democracias burguesas no ocidente e países capitalistas. Estamos vivendo agora a etapa das Democracias Participativas. Estas ainda são tuteladas pelo Estado. Temos que buscar construir a Democracia Direta. E isso só será possível com muito trabalho político. Não é com carreira política, é trabalho político. E a construção do Poder Popular é um meio. O objetivo é democratizar a democracia, pois esta que estar aí não é democracia. Você veja o exemplo maior, que é a maior e pior ditadura do mundo, que é a dos EUA, onde o Presidente pode prender torturar e matar qualquer cidadão, é passada ao mundo como uma democracia. Como pode num país onde o racismo e o preconceito, a exploração do homem pelo homem é permitida e a existência de legislação como a Lei Patriótica pode ser considerado uma democracia. É um absurdo. Mas existem meios de comunicação que recebem dinheiro para manipular a opinião pública e divulgar que lá é uma democracia. Por isso.

O senhor tem uma vida acadêmica bastante agitada. Faz muitas palestras, conferencias, participa de debates. Tudo seria normal não fosse a multiplicidades de temas que o senhor é especialista e fala. Vai desde temas como Direito Internacional, Economia Política, Movimentos Sociais, Reforma Agrária, Meio Ambiente, Defesa Nacional, Energia Nuclear, Corrida Armamentista, Teologia Política, e hoje o senhor, um homem de esquerda é um dos poucos, ao que parece não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, especialista em Inteligência e Contra Inteligência, como também em Contra Terrorismo e Segurança Internacional. Como é isso?  Interessante isso. Muito interessante mesmo. Mas isso é fruto do que vivi. Da necessidade de sobrevivência e do aprendizado que tive na luta revolucionária. Já gostava do tema, mas desenvolvi para sobreviver e lutar. Espionagem, Serviços Secretos, tudo isso teve um glamour realmente histórico, mas hoje com o avanço da tecnologia isso mudou. Também isso é um tema laureado de sigilos e silêncio. Nenhum governo gosta de debater isso, no entanto eu gostaria de colocar aqui que é um tema que tem que ser democratizado. Quando eu fiz parte da equipe de coordenação da campanha do Eduardo Campos e depois da Marina Silva tive oportunidade de ajudar na construção de um projeto político para o programa de governo da campanha mas que não foi publicado porque ainda teria que ser debatido, eu era de um outro campo, mas meu amigo Mauricio Rands, que coordenava o Programa de Governo,  me pediu e eu fiz um documento nessa área que foi muito bem aceito por ele e a Neca Setúbal, mas foi feito basicamente por mim e resumia-se basicamente no seguinte: ou seja eu dizia que nenhum país pode prescindir de uma política de Inteligência, muito menos de um órgão que a exerça, e que tenha como foco a defesa dos objetivos nacionais, a segurança de sua soberania e a proteção de seu povo.  Isso é obvio muito mais dito por alguém que foi da Internacional Revolucionária e foi um dos chefes da Inteligência Guerrilheira que é um sub ramo de diversos outros ramos que compõe a Inteligência e os serviços de segurança. Assim naquele documento eu defendia basicamente que uma nova Política de Inteligência é necessária para o Brasil. Não uma Inteligência repressiva, mas preventiva. Que desenvolva ações secretas, sim. Dentro dos limites constitucionais. Mas não clandestinas. Fora dos padrões legais. Exercida e sob controle externo, através do Congresso Nacional, com o fortalecimento da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência. Até porque originalmente a atividade de Inteligência foi usada como atividade historicamente militar e policial, razão pela qual até hoje é confundida como tal. No decorrer dos anos os órgãos que desenvolvem tal atividade foram militarizados e servindo de policia política para reprimir opositores aos regimes democráticos e criminalizarem movimentos sociais e lideranças populares. Não é esse seu objetivo. Entendemos que um órgão de Inteligência não pode ser policia política de nenhum governo, pois é uma atividade de Estado na prospecção de conhecimento estratégico para o assessoramento de Chefes de Estado, do Alto Comando político, militar, econômico e social de organismos militares, empresas e instituições públicas e numa versão mais moderna dos movimentos sociais para o exercício pleno da cidadania, cogitando-se inclusive se desenvolver projetos de parceria com os movimentos sociais para a defesa da soberania nacional e da Segurança Internacional. E o que eu defendo. Uma nova Política de Inteligência para o Brasil deve ter um órgão que além de não perseguir opositores políticos, vigiar militantes populares, não pode criminalizar os movimentos sociais, como fez o SNI e vem fazendo atualmente alguns órgãos que compõem o SISBIN, que ultimamente serve apenas para fichar militantes que fazem reivindicações políticas e acompanhar manifestações populares de índios, seringueiros, sem terras e sem tetos. Tem que combater é o terrorismo, defender a soberania nacional e ajudar a coordenar a segurança interna do país. Se a atividade de Inteligência foi usada para fazer a guerra entre nações no decorrer da história, deve agora ser uma atividade voltada para a construção da paz mundial, da proteção do meio ambiente, a defesa dos direitos humanos, a manutenção da segurança internacional e a construção da democracia global. E a nova ABIN que surgir dessa nova política servirá de exemplo para o mundo, e não um mero reprodutor de outros modelos e organogramas ultrapassados mundo afora. A ABIN nasceu com erros de origem, pois herda mais que a estrutura, uma cultura de Inteligência repressiva, militarizada e policialesca, proveniente do velho SNI. E não vai ser através de decretos que vamos mudar isso, mas de uma nova cultura a ser implementada através de uma nova Escola Nacional de Inteligência que realce tal atividade com princípios e ética e tenha a Democracia como valor universal. Que desenvolva a política do adversário externo, e não do inimigo interno, onde o ator é a própria sociedade. Uma nova ABIN, para prospectar conhecimento estratégico através da Contrainteligência a proteger a soberania nacional e o patrimônio histórico acumulado. Desta forma colocamos para o debate e uma posterior sistematização desse pensamento as sugestões a serem levadas para um debate amplo com a participação de Especialistas, dirigentes partidários, líderes de movimentos sociais, empresários, militares e religiosos, uma vez que estará em discussão não apenas a atividade de Inteligência em si, mas seus diversos ramos e ações, com causas e efeitos para a construção de uma nova Inteligência, seja ela, de Estado, Institucional, Militar, Policial, Criminal, Econômica, Comercial, Competitiva, Previdenciária, Fiscal, Estratégica, mas principalmente de uma Inteligência Cidadã. Uma Inteligência que tenha como pilares de ação a Defesa Nacional; a Política Externa; a Segurança Pública, o Desenvolvimento Socioeconômico e a Democracia Participativa. Uma nova ABIN respeitada e aceita pelo povo e não temida e odiada.

Nesse caso o que o senhor propõe objetivamente? É nesse sentido que propomos para discussão as seguintes sugestões sobre a ABIN: 1. Uma completa reformulação orgânico-administrativa da ABIN, com um novo organograma e uma nova política de pessoal, modelo de recrutamento e ingresso na carreira de Inteligência; 2. Desmilitarização e desvinculação total da ABIN do GSI – Gabinete de Segurança Institucional; com vinculação direta a Presidência da República e mudança de princípios, objetivos e estratégia. E não como foi feita recentemente. A ABIN deve ser subordinada é a Presidente 3. A ABIN deve passar a ser não apenas um órgão de assessoramento direto da presidência da República, mas de atuação para toda administração publica federal, direta e indireta. 4. Ter a prerrogativa de atuação na defesa do Estado, na proteção da Sociedade brasileira objetivando dentre outros fins contribuir para uma Política de Segurança Nacional e de defesa dos interesses e objetivos nacionais; inclusive com atuação no exterior. 5. Atuar na proteção das riquezas nacionais, defesa do patrimônio ambiental, energético, dos recursos naturais e interesses econômicos, internamente e também no exterior; 6. Fortalecer a ABIN na luta contra o narcotráfico e o terrorismo ampliando a participação da Agência no exterior, através de uma UNIDADE DE OPERAÇÕES ESPECIAIS, assim como fortalecendo multilateralmente a cooperação com serviços de inteligência comprometidos com o combate aos inimigos acima citados; 7. Revisar num debate amplo e urgente, com setores da Sociedade brasileira, a PEC 67 e criar as condições de regulamentação constitucional, da atividade de Inteligência e a proteção do agente público da área; Regulamentando também a figura do Adido de Inteligência. 8. Implantação de uma Política Nacional de Inteligência; uma Doutrina Nacional de Inteligência; um Plano Nacional de Inteligência; uma Estratégia Nacional de Inteligência e principalmente uma nova Cultura Nacional de Inteligência. 9. Revisão orçamentária e desenvolvimento de uma política financeira que duplique o orçamento da Inteligência (atualmente em torno de 700 milhões de reais) para evitar que seja necessário a quadruplificação do orçamento da Segurança para a repressão; Dotando a ABIN de condições para a implantação da nova Política de Inteligência. 10. Fortalecimento e modernização do setor da Contrainteligência para a proteção do patrimônio de conhecimento da Agência, assim como um novo debate sobre o SISBIN observando se existe necessidade de uma reformulação em seus conceitos e estrutura. 11. Revisão dos princípios e da estratégia que regem a política atual de Inteligência e construção de nova Escola Nacional de Inteligência que construa na diversidade do debate uma nova Cultura de Inteligência para o Brasil nos diversos ramos de sua atividade. 12. Aproximação da ABIN com a Sociedade brasileira, através da ação conjunta com movimentos sociais, culturais, ambientais e sindicais, universidades e empresariais. E não essa política de afastamento e criminalização por parte do órgão contra a sociedade. Que aliás se diga, fruto apenas de alguns dirigentes, não dos servidores, que com certeza querem essa mudança; Para tanto defendo que se amplie os entendimentos entre o governo e se formule uma Nova Política de Inteligência para o Brasil e para isso devemos realizar:   1. Reunião com Especialistas da área, para a formulação das Diretrizes Básicas da Proposta de Inteligência; e 2. Encontro Ampliado de Especialistas, Diretoria da ASBIN, Associação dos Servidores da ABIN, da AOFI, Associação dos Oficiais de Inteligência da ABIN, Movimentos Sociais e representantes do atual SISBIN para a formulação da Proposta Básica de Inteligência. Acho que é por aí.
O senhor colocou uma proposta política institucional para a Inteligência, mas o lendário Comandante Mercúrio teria algum comentário ou conselho a fazer, já que foi um dos melhores agentes da Revolução Internacional e atuou como tal durante muitos anos? Eu diria que considerando a experiência que vivi nenhum militante, por questão de segurança, deve procurar saber mais do que o necessário, nem falar mais do que deve. Ouvir mais do que falar, e falar menos do que puder. Quem ganha batalhas, não é quem tem tropas, mas quem tem informações obtidas pela Inteligência. Hoje no entanto não existe mais o glamour da espionagem clássica, tudo é fruto, principalmente com o desenvolvimento da tecnologia, através da análise de efeitos e a devida precisão de atos que podem ocorrer. Um Agente de Segurança ou da Inteligência, deve ser discreto, observador, critico, ágil, e principalmente preparado politicamente para reagir em situação de risco sem despertar qualquer suspeita. O setor de Inteligência e Segurança é o setor nevrálgico e porque não dizer cirúrgico, de qualquer organização. O silêncio é seu lema e a sombra sua marca. O Agente da Inteligência, até ao dormir, ter sempre um olho fechado e o outro aberto. Se não conseguir controlar seus sentimentos, controlar suas emoções. Nunca se desviar da missão e ser sempre realista. Nem otimista, nem pessimista. Simpático, determinado, poliglota, se possível, sem que os outros saibam. Sedutor, porém ético. Treinado como uma máquina, contudo humano em sua ação. Entender que a princípio, todo Movimento é de Massa, e Organização é de Quadros, mas nem sempre se caracteriza assim. Seja Movimento ou Organização, de Massa ou de Quadros, não pode prescindir de um Setor de Inteligência e de Segurança, subdivididos, onde o primeiro em Inteligência Estratégica e Contra Inteligência, e o segundo em Logística e Operações. E principalmente saber que quem faz Inteligência, não faz Segurança, e vice versa.

Pena que eles não queiram debater isso, ou talvez nem cheguem a tomar conhecimento? Com certeza eles tomarão conhecimento. Eles usam muito do sistema de Coleta de Informações Aberta. Eles sabem o que eu quero dizer. (ahahahah);  Ou seja; não tem um orçamento para obter informações de outra forma então vão ler jornal. Ou pesquisar na Internet. É assim.

Por que o senhor está rindo tanto? Porque esse é um mundo muito estranho para as pessoas comuns, que não conhecem o tema. Pode ter certeza que essa entrevista vai circular entre eles. (ahahah). Até hoje eles adoram, senão me vigiar, porque acabou a ditadura, saber o que penso (ahahaha). Mas eles gostam de mim, eu sei. Tenho amigos lá que antes de fazerem concurso foram militantes e são meus amigos.

E sobre a política nacional. O Brasil?  Só tenho a fazer alguns comentários que poderiam evitar essas demandas sociais e protestos. Assim gostaria que fosse discutido como foi falado aqui no evento a questão da reforma agrária, o combate a corrupção dentre outros. O Brasil ainda vive o cativeiro da terra. São 500 anos de latifúndio. Quanto a crise.  A crise que vive o Brasil não é apenas uma crise político-econômica e social, mas uma crise moral, de falta de vergonha na cara de muitos políticos que ainda governam esse país. Por isso vivemos num país onde o povo passa fome e não tem onde morar.  Vivemos num país rico com um povo pobre.  E dessa forma já não somos mais apenas dois Brasis, como diz Jacques Lambert em seu famoso livro – Os dois Brasis – mas vários Brasis; o da fome, o da corrupção, o da violência, do desemprego, da impunidade, do etc e tal…È preciso uma Revolução Cidadã.

Vamos fazer um ping pong, ok?  Perguntas curtas e respostas mais curtas ainda. Certo? Ok. (ahahahah – risos) Viu. Eu disse só ok. Respondi bem rápido. E curto.

Governo Rollemberg? Herdou o que de pior se podia herdar de um governo anterior, mas com muita dedicação, compromisso e participação será considerado o melhor governo da história política do DF.

O Cidadão Rollemberg? Uma pessoa profundamente humana; um militante dedicado e um amigo a quem tenho muita consideração, admiração e respeito.

Considerado uma lenda, um ícone da esquerda, sabe-se que a Direita lhe odeia. Porque? (ahahah) Vocês querem o que? Isso é uma luta política.  Nem Cristo agradou a todos, os judeus e romanos o mataram. Não vai ser eu que vou ser amado por todos não é? Mas como um militante do dialogo eu converso com ela. Com a Direita.

O Acilino pessoa. Gosta de que. Futebol, viagens, o que? Adoro música, cinema e literatura. Dançar e lutar Kun Fú. Pena que não tenha tido tempo mais para isso. Mas pelo menos continuo diariamente antes de dormi lendo um pouco e assistindo um filme ou documentário. Gosto muito. No carro ouço música clássica e romântica. Quando tenho tempo gosto de dançar. Música de salão e dance. Adoraria ter tempo e voltar a jogar tênis. Eu não consigo me libertar da agenda institucional, aí restrinjo minha vida pessoal.

Viajar? É meu hobby, mas não tenho tido muito tempo ultimamente. Nos tempos da Internacional Revolucionária era uma beleza. Morava dentro de avião. Europa, melhores hotéis. E muita adrenalina.

Cidades que gostaria de voltar, já que é um homem muito viajado? Gosto muito de Roma, Atenas, Viena e Berlim. Mas Paris e Trípoli são as cidades que mais gostaria de voltar. Amo de verdade essas duas cidades. Tive momentos importantes na minha vida que me fazem recordar com saudade as duas.

Período de clandestinidade, luta armada, ditadura. O que lhe faz lembrar? Um período que espero nunca mais volte e que não tenho nem um pouco de saudade. Tenho recordações. Alguns maus momentos, outros bons. Principalmente aqueles do final da ditadura. Esses foram bons, porque contávamos o dia dos militares saírem do poder. Uma época em que aprendi muito também, mas onde minha juventude foi inteiramente dedicada a luta revolucionária. Não me arrependo de nada. Até faria tudo de novo se fosse preciso e a ditadura voltasse, de forma diferente claro, mas espero que isso nunca mais aconteça em meu país e em lugar nenhum do mundo. Foi uma tragédia a qual agradeço a Deus ter sobrevivido. Realmente sou um sobrevivente da utopia.

E sua infância. Do que lembra? Tive uma infância muito bonita. Com todo o carinho dos meus pais. Aquele amor protetor de mamãe, a preocupação de meus irmãos e os ensinamentos de meu pai. Apesar de tudo recordo com carinho o tempo que tive que ficar foragido. Eu tive minha infância interrompida. Com 15 anos eu fui preso e depois já tive que ir para a clandestinidade aos 17. Meu avô e minha avó me deram apoio e eu fiquei um tempo escondido na fazenda do meu avô. Era o lugar mais seguro. Lá no Piauí. Saí de Brasília sozinho, de ônibus, atravessei a região do Araguaia, onde estava o foco da guerrilha, mas consegui chegar ao Piauí. Na fazenda convivi com os camponeses. Foi ótimo. Ai voltei e me engajei na luta mesmo. Depois é essa história que vocês já conhecem. Sobrevivi. Tô vivo e continuei a luta. Os ideais continuam, nunca morrem. Poderiam ter me matado, mas minhas ideias continuariam, em outras gerações, mas não morreriam. São mais de quarenta anos. Tô um pouco cansado não nego. Cansado mesmo. Mas um revolucionário não tem tempo para ter medo nem para descansar. É a vida. E renasço cada vez que vejo o sorriso de uma criança com uma demanda atendida, uma mulher com o direito respeitado, um idoso alegre porque teve seu espaço conquistado. Enfim, a vida só vale a pena se você lutar para ver as pessoas felizes e a humanidade vivendo em paz. Pensava assim na minha infância e penso até hoje. Um Revolucionário é um humanista a vida toda.

E seu irmão, Raimundo Ribeiro? Interessante vê-los juntos na mesa desse evento. Como é a relação de vocês, mesmo estando em partidos diferentes? Excelente. O Ribeiro é o tipo do político que eu gostaria que a maioria dos políticos de Brasília tivesse como referência. Um homem sério, honesto e ético. Meu ídolo. Meu exemplo de político que tenho como referência. Além do mais meu melhor amigo. De todas as horas. Era meu segurança quando éramos meninos, adolescentes. (ahahaha) È verdade. Quando estudávamos no Colégio Setor Leste e depois na Universidade, ele ficava vigiando para ver se a polícia não vinha me prender enquanto eu fazia discurso para os estudantes. Massa não é?  Hoje ele é deputado e eu um Subsecretário de Estado. Realizando os sonhos pelos quais lutamos. Aprendi muito com ele nesses anos todos.
Vimos também aqui na mesa muitos secretários e secretárias, participando e contribuindo para o evento, como Marcos Dantas, José Guilherme, Júlio Gregório, Leila Barros, André Lima, Guilherme Leal, Rômulo Neves, Marcia Alencar, Karina Rosso, Adriana Caitano, o Presidente da TERRACAP, Alexandre Navarro, o próprio Secretário Chefe da Casa Civil, Sergio Sampaio, isso demonstra uma grande importância que o governo está dando ao evento, não? Sim, e quero aqui fazer um agradecimento especial a todos eles e elas que contribuíram para isso, inclusive trazendo suas experiências e apoio. Com eles e os demais que passaram por aqui vamos construir novos caminhos para a democracia no DF. Um governo que tem uma equipe como essa pode se orgulhar de ter pessoas sérias e comprometidas. Sou grato a todas pela participação.

Hoje com todo esse acumulo de conhecimento, respaldo político e sendo um dos mais conhecidos líderes do PSB, o senhor pensa em ser candidato a alguma coisa? Não. Absolutamente a nada. Apenas a ser um bom subsecretário que espera cumprir sua missão e ajudar o governador Rodrigo Rollemberg a fazer de Brasília a Capital do Dialogo e da Participação. Como eu já disse. Não me interesso em fazer carreira política. Quero fazer trabalho político. É muito diferente. Já dei essa cota de luta no Piauí. Fui Vereador, Secretário de Estado, Superintendente do INCRA, candidato a Prefeito de Teresina, a Governador do Piauí e a Senador da República. Chega. Quero agora ler muitos livros ainda, assistir milhares de filmes e documentários que ainda não assisti e principalmente lançar meus livros, que em parte são as teses de minhas pós graduações, nas áreas de História, Direito, Geopolítica, Relações Internacionais e também de Inteligência. Ao todo são sete teses de pós e três outros livros. Dez no total. Um deles de memória. Mas não tive tempo ainda. E ainda supervisionar os dois documentários sobre minha vida e trajetória que os diretores estão me cobrando. Pense. E viajar muito ainda. Mas para passear.

Acilino, obrigado e o último comentário não é nenhuma pergunta. Está aberto a suas considerações finais. A vontade. Queria apenas agradecer vocês ficarem comigo até uma hora dessas. Onze e meia da noite. Três horas de entrevista, regado só a água mineral e cafezinho. Depois de um dia de trabalho pesado como foi o Encontro do qual vocês também participaram e dizer que vocês são parte dessa luta, pois além do mais vocês foram testemunhas de espeço criado e desse momento histórico em que estamos revitalizando Brasília e recolocando-a no lugar certo. Em meu nome, do Secretário Sergio Sampaio e do governador Rollemberg agradeço o apoio de vocês para que possamos fortalecer a Democracia em Brasília. Esse é nosso projeto. Um abraço.

Brasília – DF, 24 de outubro de 2015.
Com a colaboração de GISELE BELL, KHATARINA GARCIA e AHMED KALIL respectivamente